"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ao vivo #104



















O Phestival @ Hard Club, 19-20/04/2013

Talvez esta coisa d'O Phestival pouco ou nada diga àqueles que não pertencem a essa congregação chamada Igreja Universal dos Fazedores de Bonitas Listas Musicais dos Últimos Dias, ou IUFBLMUD para encurtar. Esses, provavelmente, não são autênticos geeks que, noite após noite, aguardam impacientemente pelas doze badaladas para alimentar esse vício das listas musicais, ou "Síndroma Alta Fidelidade", como noutros tempos lhe chamava o Criador da seita. Aos infiéis, convenhamos, também não me parece que fosse particularmente apelativo um naipe de bandas com pouco nome na praça, com a particularidade de cada uma delas incluir pelo menos um "fiel" da IUFBLMUD. Por isso, é natural que, no passado fim-de-semana, o Hard Club fosse local de peregrinação quase exclusivamente para fervorosos fundamentalistas da causa para assistir ao evento que o sonho de uns quantos e o trabalho de muitos tornou possível. Para tão solene ocasião os "irmãos" músicos não se fizeram rogados, e arrancaram concertos de nível qualitativo bem acima do habitual em bandas nacionais, até mesmo das mais habituadas aos festivais "institucionais". Em particular precisamente aquelas que incluem pessoas das quais me orgulho de ser amigo: Malcontent, Olavo Lüpia e Tallowate.

Com uma formação renovada relativamente à única vez que se tinham cruzado no meu caminho, os Malcontent deixaram meio mundo boquiaberto com a sua prestação rock da escola sónica amiga da distorção. Os Mary Chain ainda são a principal fonte de inspiração, mas discípulos como os A Place To Bury Strangers ganham terreno a bem da imponência da muralha sonora. Se a colagem aos mestres pode ser um aspecto negativo, os Malcontent compensa-no com um lote de canções soberbas e um savoir faire pouco habitual mesmo em bandas de muito maior dimensão. Quanto a Olavo Lüpia, esse trovador do lado errado da vida, era muita a vontade de o encontrar em cima de um palco, depois de ficar babado de orgulho com as canções que este grande amigo me foi dando a conhecer previamente. Nos temas mais convencionais, se é que podemos chamar convencionais a estas trovas amargas, talvez o nosso bom homem acuse alguma maciez que não lhe imaginava. Vamos ser optimistas e pensar que a rudeza seguirá dentro de momentos, em ocasiões não revestidas de tão grande carga emocional. Porém, a secura ainda marca presença, sobretudo quando Olavo embarca numa toada bluesy, com a mesma autenticidade de um ceguinho do Mississippi dos tempos da Grande Depressão. Por fim, queria falar-vos dos Tallowate, essa entidade que encerra em si diferentes tendências da linha dura do rock. À frente têm o verdadeiro animal de palco, um vocalista a quem baptizo desde já como "o Steve Albini da Cedofeita". É este ser movido a adrenalina, velho conhecedor do rock sem meias tintas, que capitaliza as atenções, quase ofuscando um trio de músicos competentíssimos, talvez a máquina musical mais bem oleada de todo O Phestival.

Deste evento recheado de acontecimentos para registar nas melhores memórias de uma vida de rock'n'roll, poderia ainda falar-vos de uma data de pequenas coisas que não acontecem noutros festivais. Mas não o vou fazer porque não quero maçar-vos com emoções demasiado pessoais a que o vosso estatuto de infiéis talvez não atribua a devida importância. E também, porque, com uma pequena dose de mistério, talvez vos crie água na boca para a segunda edição d'O Phestival.

3 comentários:

eduardo disse...

"Steve Albini de Cedofeita" soa-me muito bem! Obrigado pela resenha ao concerto. Folgo em saber que gostaste. Grande abraço!

M.A. disse...

Ora essa, não agradeças. Eu limitei-me a exprimir a minha opinião. E o prazer de assistir a um grande concerto foi todo meu. Grande abraço.

Anónimo disse...

"Num dá hipótese, você"!!! Fica a promessa de, não renegando a principal influência, o próximo trabalho não ter esse aspecto... tão negativo! Um grande abraço!