"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sábado, 27 de abril de 2013

Ao vivo #105

















Psychic TV + Les Baton Rouge @ Centro Cultural do Cartaxo, 24/04/2013

Falar dos Psychic TV é falar de Genesis P-Orridge, uma das mais controversas e provocadoras personagens do universo "alternativo". As formações que o acompanham são variáveis, tal como o são as expressões musicais que, desde a fundação deste projecto mais pessoal logo a seguir à extinção dos seminais Throbbing Gristle, já variaram entre o psicadelismo folk e a house music. Portanto, devido às credenciais e à instabilidade da estrela da noite, poucos saberiam ao que iam na passada quarta-feira.

O que calhou em sorte à maior multidão que já presenciei no CCC foi algo que tresanda a setentas, sem grandes acrescentos de cunho pessoal. Acompanhado por uma banda que poderia ter pedido elementos emprestados à formação dos Spinal Tap, Genesis mergulha numa sucessão de clichés do chamado "rock pedrado", com tendência para o exibicionismo virtuoso, algo que privilegia a forma em detrimento da substância. Assim, por cortesia de um guitarrista ligado à corrente, o concerto que rondou a hora e meia foi uma sucessão de riffs que tanto poderíamos já conhecer dos Hawkind ou dos Pink Floyd, ou até - pasme-se! - de uns Scorpions ou outro equiparado hard-rock. Servidos por efeitos de som com esse propósito, e beneficiando da boa acústica da sala, os Psychic TV conseguem - há que admiti-lo - criar uma atmosfera com alguma imponência. Levada pela muralha sonora, a turba reage com significativo entusiasmo, embora eu arrisque dizer que a reacção fosse idêntica se P-Orridge tivesse optado por uma série de versões dos UHF ou dos Delfins. No fundo, é a isto que se resume o servilismo aos ícones, com manifestações de devoção mesmo quando eles se nos apresentam como caricaturas toscas dos artistas desafiantes que já foram. Estes, por seu lado, talvez estejam a pagar o preço de um longo alheamento do mundo real, processo normalmente induzido a ácidos, nem se dando conta da sua triste figura.

Com mais de década e meia de existência, os portugueses Les Baton Rouge são um daqueles casos em que que a falta de sucesso comercial não significa, necessariamente, uma carregada agenda de concertos e uma boa reputação de palco. Confesso que, ao primeiro vislumbre, temi mais uma "banda de tributo aos Cramps", algo em que este país estranhamente é pródigo. Assim não foi, e aquilo a que podemos assistir, não obstante a escassez de ideias originais, foi a prestação de uma banda à qual sobra a atitude que não abunda por cá. Sobretudo na vocalista Suspiria Franklyn, dona de uma voz que, nos floreados e nas variações de tom, faz lembrar uma Kristin Hersh, se esta se tivesse entregue à vida rock'n'roll. Pela comparação já perceberam que Les Baton Rouge não estão para sensibilidades. Com o seu rock sem merdas, sujo e irrequieto, desfilam um lote de temas curtos e secos, que tanto podem fazer lembrar as Runaways como as Babes in Toyland, os X-Ray Spex como os Ikara Colt. Porém, fazem-no com uma naturalidade que lhes confere muita personalidade.

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