SUEDE
Suede
[Nude, 1993]
Recuando ao Reino Unido de há duas décadas exactas deparamos com o definhar das tendências baggy e shoegaze, e à tomada de posição no tocante à música de guitarras por parte da concorrência vinda do outro lado do Atlântico. No horizonte ainda não se vislumbra a suposta "guerra" entre duas bandas que estaria na origem da recuperação do orgulho dos britânicos no produto interno e de uma segunda British Invasion, embora em menor escala que a primeira. Antes de tal ocorrência, porém, uma banda que não poderia provir de outras paragens criava ondas de entusiasmo com a recuperação da iconografia pop britânica para a geração acelerada de noventas. Apesar da frescura apenas detectável nas bandas que fazem história, nos novatos Suede era por demais evidente a devoção pelas sonoridades glam-rock, bem como da pop mais intelectualizada e afectada de oitentas, sobretudo e respectivamente por David Bowie e The Smiths. Tal como The Dame, cultivavam a androginia e a atracção pela decadência; em comum com os últimos tinham o sentido pop e em Brett Anderson e Bernard Butler uma dupla de escritores de canções imbatível, com a particularidade do primeiro ser também um vocalista dado à expressividade e o segundo um guitarrista de vastos recursos.
À imprensa sedenta da next big thing bastaram apenas as primeiras aparições públicas da banda para antever altos voos. A imagem e a atitude do quarteto londrino ajudou à atracção pela curiosidade das massas, o par de singles inicias foi o bastante para uma autêntica onda de histeria. Faltava, contudo, o álbum da confirmação, algo que haveria de consumar-se no fulgurante disco homónimo, alvo de uma recepção altamente calorosa de que poucos discos de estreia desde então se podem orgulhar. No sector de produção britânico, talvez apenas os debutes dos Oasis e dos Arctic Monkeys tenham estado ao mesmo nível de aprovação. Jogando pelo seguro, Suede inclui o par de temas já antes conhecidos dos pequenos formatos, e a estes soma mais nove temas de igual potencial para serem singles. Abre efusivamente com "So Young", canção bem demonstrativa das qualidades vocais de Brett Anderson, capaz de alternar falsettos imaculados com tonalidades mais graves e de afectação dramática. Apesar do brilho ofuscante da guitarra cristalina e da celebração da juventude, a letra não esconde uma atracção pelo narcótico, profetizando o que seriam as sociedades jovens e urbanas da década de 1990. Esta evidência é, aliás, uma constante nas letras da maioria dos temas, assim como o são o hedonismo e o apelo ao sexo casual. São estas mesmas temáticas que alimentam "Animal Nitrate", "The Drowners", "Moving", ou "Metal Mickey", quarteto de temas nos quais a guitarra inquieta de Bernard Butler é servida pelo groove de uma secção rítmica (o baixista Mat Osman e o baterista Simon Gilbert) capaz de extrair todo o potencial dançável da música dos Suede. Os devaneios de virtuosismo do guitarrista ficam reservados para as baladas, em número considerável como haveria de ficar a constituir imagem de marca da banda. Do lote destacamos "Pantomime Horse", de um dramatismo decadente reverente a Scott Walker, e "Sleeping Pills", beleza em estado bruto convidativa ao sono induzido por químicos.
Suede encerra com um desses temas de toada mais lenta, na circunstância "The Next Life". Coincidência ou não do título, este tema é uma espécie de antevisão do cariz orquestral que os Suede haveriam de desenvolver no sucessor Dog Man Star, um disco substancialmente mais negro, dramático, e até politizado, mas igualmente brilhante. Consta que a opção estética foi tomada por iniciativa de Anderson, movido pelo estado de espírito na altura de escrever as letras. Quem não se mostrou particularmente entusiasmado com o rumo seguido foi Butler, que abandonou a banda ainda antes do término das gravações. Com guitarrista/compositor substituto, os discos dos Suede sucederam-se numa curva qualitativa descendente, mas sempre com assinalável sucesso comercial, até à extinção da banda em 2003. A importância histórica e impacto que tiveram nos jovens de noventas não sai beliscada pelos discos menores, como tão bem atestam a adesão aos concertos pós-reunião e o destaque dado ao recente álbum de regresso, competente mas irrelevante, por parte daqueles que rondam hoje os quarenta.
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