"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Haja alegria!

















Na última década, e em especial na última meia dúzia de anos, a febre revivalista chegou também aos meandros do shoegaze e territórios noise-pop adjacentes. Por esta altura, já teremos perdido a conta às bandas ou projectosque, de diferentes formas, desenvolvem uma identidade musical na qual o ruído e idílico se imiscuem, propiciando sugestões espectrais. No entanto, não são precisos mais que os dedos de duas mão para contar aqueles que ousaram pegar na essência e acrescentar algo, os que não se limitaram à mera regurgitação de um passado com pouco mais de vinte anos. Neste lote temos de incluir obrigatoriamente a dupla No Joy, que, com as suas integrantes separadas pela distância que vai da Califórnia ao Quebec, trocaram ideias e gravações para criar um dos discos mais estimulantes do chamado nu-gaze. Falo-vos de Ghost Blonde (2010), um denso emaranhado de espirais de ruído que, a princípio, pode causar alguma estranheza, para, aos poucos, nos sugar irremediavelmente.

Para as gravações do novíssimo Wait To Pleasure, Jasmine White-Glutz e Laura Lloyd já se encontravam ambas estabelecidas em Montreal. Essa proximidade, e o convívio em estúdio, poderão ter sido determinantes na direcção seguida, inequivocamente mais próximo de formatos estandardizados de canções e abrindo frestas por onde penetra alguma luminosidade. Sem, no entanto, retirar o pé dos pedais de efeitos ou abdicar das texturas elípticas, a parelha ousa tanger a pop, naquilo que esta tem de mais puro, com as vozes e as palavras agora perceptíveis sobre a descarga sónica. Relativamente à massa compacta que era Ghoste Blonde, o novo registo também se distingue nas diferentes opções estéticas abordadas. Assim, o avanço "Lunar Phobia" é uma visão reactualizada do ponto em que a sensualidade dos Curve se intersecta com a fantasmagoria dos Cocteau Twins, enquanto "Blue Neck Riviera" é uma dança narcótica com batidas mecânicas violentadas pelas doses de distorção. Na toada de dream-pop imaculada da escola Slowdive sobressaem "Hare Tarot Lies" e "Uhy Yuoi Yoi", bem diferentes de "Pleasure" ou "Lizard Kings", estes equidistantes dos abstraccionismos do anterior das No Joy e do último dos My Bloody Valentine. Em suma, podemos dizer que, não obstante a fácil identificação das bases de trabalho combinadas com cunho pessoal, Wait To Pleasure é um passo evolutivo seguríssimo, não necessariamente incaracterístico, de uma banda que já conquistou o seu espaço no nicho específico em que se move.

"Lunar Phobia" [Mexican Summer, 2013]

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