"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 16 de abril de 2013

L-O-V-E (Love)















Não foi fácil a maior parte da vida de Charles Bradley, marcada por tragédias, empregos precários, indigência, e o constante adiar do sonho de um dia subir ao altar dos grandes mestres soul. O sonho haveria de ser realizado, já em idade sexagenária, com a edição de No Time For Dreaming (2011), primeiro e aplaudido álbum de uma voz de excepção que o mundo se arriscava a desconhecer para todo o sempre se não fosse o ouvido clínico das gentes da Daptone Records, as mesmas que descobriram Sharon Jones, Lee Fields, e outras "estrelas" tardias. As incidências amargas de uma vida completa haveria de se reflectir no conteúdo daquele disco, não propriamente no sentido auto-biográfico, mas através da manifestação da insatisfação para com o mundo em redor.

Aquele cariz sócio-político não era nada de inédito nos meandros soul, pois basta lembrar que percorria a obra-prima do grandioso Marvin Gaye. No entanto, à soul, tanto em interpretações masculinas como femininas, associamos normalmente as odes de devoção ao género oposto. Nada de muito profundo, portanto, apenas a típica canção de amor mas induzida de uma grande dose de carnalidade. Charles Bradley, a quem a sorte sorriu tardiamente mas com intensidade e tremenda justiça, é hoje um homem mais optimista do que aquele que se nos apresentou há um par de anos. Também ele se rendeu aos feitiços do Amor, que agora se libertam no novo, e novamente mui recomendável, Victim Of Love. Expurgados os demónios, o cantor celebra a gratidão com alguns temas de assinalável espiritualidade, mas essencialmente deixa-se levar no enlevo amoroso. Os sopros ainda são presença assídua, mas menos impositivos e com a concorrência de teclados lascivos. Porém, a voz, calorosa, paira agora muito acima do acompanhamento instrumental. Apesar de algumas raras inflexões à época dourada da Motown de sessentas, Victim Of Love assenta melhor na categoria da soul da década de 1970, de preferência próximo da obra dengosa de Al Green, certamente um dos principais factores do incremento da taxa de natalidade naquele período.

 
"Stricly Reserved For You" [Dunham / Daptone, 2013]

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