"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Crónica feminina

















Não é muito habitual alguém iniciar-se nas lides musicais já depois de entrar nos trintas. Mas aconteceu com a nova-iorquina Marnie Stern que, segundo consta, apenas teve a primeira epifania rock já em plena idade adulta, quando ouviu pela primeira vez as Sleater-Kinney. Este emblemático trio feminino teria nela forte impacto, não só pela motivação para enveredar pela música, como na própria sonoridade que percorre a sua obra discográfica. No underground, principalmente junto dos adeptos do math-rock e de algum noise-rock, é nome de culto, sobretudo desde a edição de This Is It And I Am It And You Are It And So Is That And He Is It And She Is It And It Is It And That Is That (2008), pese embora ainda seja praticamente ignorada pelo público em geral. Convenhamos que aquele não era um disco de fácil digestão, com notas de guitarra debitadas a uma velocidade trepidante, através dos quais Marnie se revela exímia na técnica do fingertapping. Caracteriza-se também por uma certa agressividade, apenas disfarçada por uma voz de menina marota.

Os anos passaram, os discos sucederam-se, e Marnie talvez esteja agora pronta para chegar a outros públicos, já que o trajecto tem sido no sentido da acessibilidade. Era algo que já se sentia no álbum homónimo de 2010, e se consuma no novo The Chronicles Of Marnia. Neste, e sem ocorrer propriamente uma descaracterização, nota-se uma vontade de aproximação ao formato mais estandardizado de canção. Isto trocado em miúdos quer dizer que ainda podem contar com a esquizofrenia da guitarra, porém refreada por alguns momentos de acalmia, com vocalizações que não se limitam a guinchos de fêmea enfurecida e já admitem alguns sussurros de lascívia. Portanto, é Marnie Stern a assumir uma feminilidade que outrora era submergida no turbilhão que constituía cada um dos seus temas. Na operação estética talvez se deva atribuir alguma responsabilidade a Kid Millions (Oneida), que ocupa o lugar que antes era de Zach Hill (Hella, Death Grips) nas tarefas rítmicas. Não sendo propriamente homem de se render à previsibilidade, e sem demérito para o seu antecessor, o novo colaborador de Marnie Stern já antes deu provas de como apelar à eficiência rítmica sem perder em inventividade.

Immortals by Marnie Stern on Grooveshark
[Kill Rock Stars, 2013]

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