Nas últimas três décadas de música popular, há duas bandas cujos nomes são indissociáveis: Sonic Youth e Yo La Tengo. Ambas nasceram na mesma área geográfica e fizeram do ruído das guitarras ferramenta predilecta, partilharam muitas vezes palcos e elogios mútuos, e assumiram-se ambas como os porta-estandartes da nação indie norte-americana. Com antiguidades equiparadas, mas com ligeira vantagem para os Sonic Youth, vão-me perdoar os incondicionais destes se afirmar que os Yo La Tengo souberam envelhecer melhor, reinventando-se nesta fase "madura" e, consequentemente, mantendo a relevância de outrora. Ninguém me irá negar que os trabalhos mais recentes dos de Nova Iorque, dos quais o futuro é ainda incerto, já eram o repisar de uma fórmula que nada acrescentava ao glorioso passado. Enquanto isso, e salvo o pontual tiro ao lado, os Yo La Tengo evoluíam para um misto de manipulação do ruído e doçura mellow com uma surpreendente coerência que faz da audição de cada novo disco (ou cada concerto) o renovar de uma paixão duradoura.
Editado ontem, mas já com algum tempo de disponibilidade para audição, Fade é o décimo terceiro álbum do trio de Hoboken, nos seus 45 minutos de duração um manifesto de contenção quando comparado com muitos dos seus trabalhos mais recentes, e um disco para juntar ao seu rol de imprescindíveis, juntamente com o tríptico de meados de noventas. As canções aveludadas e outonais, se bem que menos soulful que nos antecessores, têm a parte de leão, como se Fade fosse uma reactualização do soberbo Painful (1993) suprimido de uma boa parte da distorção. As excepções são "Ohm", o magnífico tema de abertura cantado pelo trio em uníssono que, na sua harmonia, poderia ser uma canção soalheira dos Byrds insuflada de fuzz, e o jangly "Paddle Forward", reminiscente do já clássico "Sugarcube". O restante é feito da serenidade habitual, mas sempre renovada com novos truques, num par de temas pontuada pelo charme da secção de cordas, noutros tantos pelos sopros, e ainda pela pulsação kraut de "Stupid Things", algo de novo no infindável léxico dos Yo La Tengo. Pese embora o embalo neste mar de tranquilidade, cada audição de Fade é garantia de revelação de muitos pormenores que se escondem na aparente fragilidade, que tanto podem ser uma guitarra dissonante em fundo, como um som estranho de proveniência incógnita. Uma palavra de apreço, então, para o produtor John McEntire, o guru do "som de Chicago" que, como alguém já disse, soube extrair das canções de Fade toda a complexidade da sua simplicidade.
"Ohm" [Matador, 2013]
"Before We Run" [Matador, 2013]
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