THE TELESCOPES
The Telescopes
[Creation, 1992]
Formados na recta final de oitentas, os The Telescopes chegaram tempo de ser contemporâneos dos Spacemen 3 e dos Loop e, por conseguinte, também eles pioneiros no retorno à face mais marginal do rock que, nos tempos que correm, é matéria de revisitação constante. Uma espécie de parentes pobres do "movimento", distinguiam-se daqueles, que faziam da repetição motivo para a trip mental, por usarem o ruído como arma de arremesso.
O volte-face deu-se ao segundo álbum, homónimo mas também conhecido como Higher'n'Higher, que marcou a sua estreia na Creation Records, então a editora de referência do espectro indie. Segundo Stephen Lawrie, o vocalista e líder de sempre, The Telescopes tinha como propósito a busca do "som perfeito" por via da subtileza, enveredando por canções dignas desse nome que fazem da fragilidade a sua característica mais marcante. Os adeptos da violência sónica do passado não deverão esconder o choque ao entrar no disco com "Spalshdown", tema melódico distante de afronta do álbum de estreia que se inicia com guitarra acústica e até piano. A voz de Lawrie, que outrora estava em consonância com a rispidez da música, apresenta-se agora distante, quase dormente. Temas como "High On Fire", "Yeah", ou "Ocean Drive", têm balanço digno de nota, propondo uma variante atmosférica da "onda" baggy que um par de anos antes tinha assolado o Reino Unido. Aventam o que poderia ter sido o segundo disco dos Stone Roses, se acaso John Squire tivesse preterido os delírios zeppelianos a favor das referências aos Love e aos Byrds. Num mar de acalmia dominante, "Flying", que foi acertadamente escolhido para single promocional, e "To The Shore" são injecções narcóticas que propiciam o toldar dos sentidos. Ambos os temas, num registo de psicadelia planante, terão servido de matriz à sonoridade de uns Verve, que então davam os primeiros passos ainda distantes da grandiloquência que lhes deu a fama.
Passível de um maior desenvolvimento e depuramento, a proposta de The Telescopes não conheceu sucessão imediata, já que a banda, com alguma surpresa, se desintegrou em 1994. Por iniciativa de Stephen Lawrie, com uma formação substancialmente alterada, o regresso deu-se em inícios do novo século. Desde então, o percurso tem sido discreto, à margem das tendências badaladas pela imprensa e dos fazedores de hypes, mas ainda - ou talvez até mais - com a mesma vontade de desafiar os estereótipos rock na procura do tal "som perfeito".
Sem comentários:
Enviar um comentário