"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Singles Bar #78









THE DISTRACTIONS
Time Goes By So Slow
[Factory, 1979]




Em termos estritamente temporais, por post-punk entende-se, obviamente, o período imediatamente a seguir  à ebulição punk. Já em termos musicais, o conceito é amplamente vasto, embora tenha passado para a generalidade das massas como o reduto dos chamados urbano-depressivos e dos cultores do funk sob uma óptica (e uma ética) punk. O que hoje é algo negligenciado é que tal período também produziu música pop, algo que podemos afirmar sem termos de avançar até aos sintetismos neo-românticos de inícios de oitentas. Ali mesmo, ainda antes do final da década de 1970, um vasto lote bandas - quase todas hoje esquecidas, algumas de forma criminosa - recuperava os ditames pop de sessentas, aqui com um acento soul, ali com um travo funk, sempre sob a égide da filosofia do-it-youserlf vigente.

Deste caudal de bandas, muitas de vida breve, pelas quais nutro um especial fascínio, destaco os mancunianos The Distractions, um colectivo com inflexões soul-pop que a voragem do tempo apagou, inclusive, da rica história musical da sua cidade. Mas o que é certo é que tiveram o seu período de fulgor, chegando a editar o seu álbum solitário (Nobody's Perfect, de 1980) com selo de uma multinacional, antes da implosão no ano seguinte. Já antes, porém, tinham gravado aquele que seria o seu tema definitivo para a Factory Records, ainda a editora de Tony Wilson e Alan Erasmus não se restringia ao díptico Joy Division/New Order e projectos adjacentes. Com efeito, "Time Goes By So Slow" é uma daquelas canções que merecem a chancela de intemporal, difícil de superar em qualquer carreira, flagrantemente cintilante apesar da carga melancólica própria de uma break-up song. A linha rítmica e a estridência das guitarras remetem fatalmente para o seu tempo, mas o maior traço distintivo deste tema é a voz de Mike Finney, um dos melhores timbres blue-eyed soul da época que entoa cada frase com uma urgência tocante. Tenho de vos confessar que, no momento em que vos escrevo estas toscas linhas, e "Time Goes By So Slow" roda em repeat, sou percorrido por um misto de arrepio e revolta por esta canção não ser divulgada aos quatro ventos.

Poderá essa ténue esperança que tal aconteça até nem ser vã, isto porque de há dois anos a esta parte os Distractions estão de volta ao activo e acabam de editar um álbum. Já o ouvi com alguma insistência e posso afiançar-vos que The End Of The Pier mantém intactas, volvidos uns respeitáveis 32 anos, as melhores qualidades da banda, i.e., um apurado sentido pop, um romantismo desolado de outras eras, e uma voz que carrega em si a urgência que só julgávamos possível em cantores de tenra idade.


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