"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Profetas do apocalipse
















No vasto contingente de bandas regressadas ao activo nos últimos anos, os Swans pertencem àquele grupo restrito das que têm algo de novo para dizer. Há coisa de dois anos, quando o regresso se consumou, Michael Gira fez questão de avisar que o retorno não seria uma repetição do passado. Nesta demanda, fez-se rodear de um naipe de músicos experimentados, todos eles veteranos das franjas da música popular norte-americana. No entanto, My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky, o disco imediato ao anúncio do regresso, não deixava de evocar o mesmo poderio sónico dos Swans dos primórdios, se bem que numa vertente menos dissonante, mas com o mesmo propósito castigador.

Talvez beneficiando do lapso de tempo decorrido desde que o actual sexteto se formou, o novo e mui recomendado The Seer é ainda mais feliz nesses intentos de congregar a fisicalidade brutal de outrora com a maturidade e experiência adquiridas. Segundo o próprio Gira, o disco - duplo - é o resultado de um processo de trinta anos, tantos quantos os que leva no activo, uma espécie de culminar de todo o qualquer disco gravado, quer com os Swans, quer em qualquer dos outros projectos em que se envolveu. Este processo, diz, ainda se encontra inacabado, apesar de The Seer ocupar duas horas com apenas onze faixas, muitas delas, obviamente, com durações muito para além do convencional. Esses 120 minutos de música pedem que se oiçam de uma assentada, funcionado como uma espécie de banda sonora do quotidiano, alternando, à boa maneira dos Swans, a fealdade de um mundo em desagregação com alguns momentos de rara beleza. Ainda assim, o tema-título é a peça central e um possível resumo da obra integral. Longo de mais de 32 minutos, compõem-se de diferentes andamentos, integrando muitas explosões ruidosas, ritmos marciais, e momentos de uma contemplação apreendida nas escolas post-rock. A percussão, da responsabilidade de Thor Harris (também membro dos Shearwater) assume papel congregador, enquanto a voz de Gira aparece apenas a espaços numa lenga-lenga doentia. Funcionará, imagina-se, como a introdução perfeita para os concertos que se seguirão, na senda dos arrebatamentos que já pudemos testemunhar por alturas do anterior álbum. Na restante dezena de temas, com algumas liturgias macabras, algumas canções de redenção, e muita ruideira vertiginosa, o lote de convidados é digno de referência: Alan Sparhawk e Mimi Parker (Low), os amigos dos Akron/Family, Karen O (Yeah Yeah Yeahs), Grasshopper (Mercury Rev), Ben Frost, e até Jarboe, a antiga companheira de Gira tanto nos Swans como na vida pessoal.


"Mother Of The World" [Young God, 2012]

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