"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 16 de setembro de 2012

A era prateada

















O fim acrimonioso dos Hüsker Dü era algo mais ou menos previsível para os seguidores mais próximos. Afinal de contas, a raiva incontida que se libertava na música do trio vivia de uma dinâmica que incluía álcool e drogas em quantidade, e as tensões latentes entre os seus dois vocalistas/compositores. O suicídio do manager de sempre, eventual peça unificadora, acabaria por ser a gota de água. A perda foi lamentável, pois extinguiu-se uma banda no pleno das suas forças mas, por outro lado, transmitiu-se uma herança imaculada para aquilo que seria a explosão "alternativa" de inícios de noventas. Convém lembrar que, neste particular, os Hüsker Dü foram, talvez, a banda mais determinante na aceitação massificada de gente como os Pixies, os Nirvana ou os Sonic Youth. Os caminhos separados tiveram diferentes níveis de exposição, com Grant Hart mais discreto e errático, muito por culpa do longo período de dependência das drogas, mas com uma obra deveras interessante. Bob Mould, por seu turno, foi alvo de maiores atenções. Esta exposição, que não raras vezes entrava pelo foro privado, obrigou a um longo período de expiação dos demónios, reflectido nas indecisões quanto ao rumo a dar à carreira a solo. As opções estéticas, com diferentes graus qualitativos, passaram pela música acústica, o rock furioso e descarnado, e até a electrónica.

Hoje, na sua meia idade, Bob Mould é uma pessoa diferente do puto de vinte e poucos que se viu catapultado para a primeira linha do indie-rock norte-americano. Domado o angst de outrora, é uma figura respeitada e respeitável, mesmo quando a obra musical não é propriamente digna de nota. Não é esse o caso do novíssimo Silver Age, já o décimo álbum de uma carreira com altos e baixos, que arrisco a eleger como o mais coeso de todos os seus trabalhos em nome próprio. As afinidades com a sonoridade dos Sugar, o seu "outro" power-trio lendário, são por demais evidentes. Portanto, Silver Age é uma monstruosidade guitarrística, rico em emaranhados de riffs, electricidade, distorção, e uma singular carga melódica, mesmo nos registos próximos da balada, algo que também já conhecíamos nos Sugar. Nas letras reside, eventualmente, a grande diferença com esses tempos gloriosos, pois raramente entram pelos territórios sombrios de outrora. Neste regresso ao passado haverá dois factores que terão sido determinantes: um deles a recente rodagem pelos palcos do excelso Copper Blue (disco de estreia dos Sugar de 1992) na íntegra, o outro será o facto de, embora creditado apenas a Mould, Silver Age ter sido concebido por um trio fixo. Um dos integrantes deste colectivo é Jon Wurster, habitualmente baterista dos Superchunk, que terá incutido alguma da carga enérgica da sua banda do dia-a-dia ao disco.

 
"The Descent" [Merge, 2012]

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