THE TELESCOPES + JAMES JACKET @ Centro Cultural do Cartaxo, 21/09/2012
A prudência aconselha-nos a aguardar estes concertos das "nossas" bandas de outras eras com freio nas expectativas. Felizmente, raras foram as que me deixaram ficar mal, e algumas, como foi o caso dos britânicos The Telescopes, chegam a superar largamente o expectável. Da banda original que, no seu período áureo na viragem de oitentas para noventas, se revelou demasiado explosiva para encaixar tanto na vaga drony dos Spacemen 3 e dos Loop como nas contemplações shoegaze, resta apenas o vocalista e mentor Stephen Lawrie. Os proventos serão ainda hoje menores que naqueles tempos, e não permitem sequer que a totalidade da formação viaje até ao nosso país. De maneira que baixista e baterista tenham sido recrutados no burgo, isto sem que a sua menor rodagem se tenha feito notar. Os restantes três elementos - Stephen e dois guitarristas -, quer pela sua postura de uma subversão alienada, quer pela entrega às manipulações de ruído, centram em si as atenções e disfarçam eventuais deficiências de entrosamento.
Logo a abrir, com o "clássico" "To Kill A Slow Girl Walking", os Telescopes dão a entender que não estão em terras ribatejanas para um concerto pacífico. Da primeira fase da banda há uma predilecção pelos temas mais ruidosos (também o brilhante "The Perfect Needle" fez parte do alinhamento), oportunidades para Stephen e um dos dois guitarristas ensaiarem rituais de catarse com visitas à audiência incluídas. Menos conhecida do público, a sua obra mais recente realça o cunho spacey da sua música. Representa uma boa fatia do alinhamento, com os três músicos ingleses invariavelmente prostrados perante os pedais em devaneios de induções de estados mentais alterados. Stephen é, obviamente, a estrela da companhia, e a sua performance alheada do mundo terreno faz jus à música exploratória dos Telescopes. Após o concerto, entregue ao comércio do merchandising, parece irreconhecível na sua humilde afabilidade.
De James Jacket, o músico português a quem foram entregues as honras de abertura da noite cartaxense, pouco ou nada a dizer que seja em seu benefício. Em poucas palavras, diria apenas que é um fazedor de uma bedroom-pop - com guitarra e sons pré-gravados - que cruza o impensável: os ambientes plúmbeos dos Dirty Beaches com o exibicionismo técnico de um Santana ou de uns Pink Floyd da pior fase. Isto apenas nos dois primeiros temas, os únicos a que assisti antes de me decidi para aproveitar um último fogacho da noite estival com cigarro e cavaqueira no exterior do CCC.
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