"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 13 de março de 2011

Selo de Qualidade #2














TOO PURE RECORDS
Londres, Inglaterra [UK], 1990-2008

Aquando da criação da Too Pure Records, precisamente na alvorada de noventas, os fundadores Paul Cox e Richard Roberts tinham como propósito o apoio à facção mais experimental do indie-rock britânico, universo então dividido pelo domínio das linguagens dançantes da Madchester e os sons etéreos do shoegaze. O remar contra as tendências instituídas haveria, de resto, acabar por ser a política omnipresente ao longo dos 18 anos de vida conturbada da editora londrina.

Ainda antes das primeiras edições discográficas, o manifesto de intenções foi tornado público nas noites de concertos multi-bandas designada Sausage Machine, posteriormente documentadas nos dois volumes da compilação Now That's Disgusting Music. Com as primeiras contratações, a Too Pure viu-se conotada na imprensa com a chamada Camden Lurch Scene, uma corrente artificial baseada na origem geográfica da maioria dos projectos. Desse primeiro lote de bandas, eventualmente o mais emblemático de todo o catálogo, faziam parte Stereolab, Th' Faith Healers e Moonshake, todos elas com manifesta influência kraut-rock, mas também PJ Harvey, na altura nome de power-trio que rivalizava com a crueza rock ruidosa que na altura vinha do outro lado do Atlântico. O apreço do tutelar John Peel pelo roster inicial da Too Pure foi imediato, ao ponto de o radialista promover sessões com a totalidade do quarteto de bandas ainda numa fase imberbe.

A seguir à euforia inicial, a Too Pure marcou novamente pontos com a edição dos Seefeel, banda responsável pelo cruzamento do shoegaze experimental de uns My Bloody Valentine com a electrónica vanguardista. A britpop estava eminente, e com ela avizinhavam-se tempos difíceis para todas as pequenas editoras não alinhadas com aquele movimento. Contudo, se as vendas caíram a pique, em termos meramente artísticos a Too Pure deu a volta por cima com a "descoberta" da incatalogável feitiçaria pop dos Pram, a dream-pop de cariz electrónico dos Laika, os abstraccionismos digitais dos germânicos Mouse on Mars, e a irrepreensível escrita de canções dos Hefner e dos Jack. Com o cenário da música independente transfigurado, e coincidindo com o abandono da dupla fundadora, em 1998, a Too Pure viu-se integrada no Beggars Group, então já um coglemerado com uma boa fatia na distribuição na música de filiação indie.

Após um período de escassa actividade, os primeiros anos do novo século trouxeram um novo fôlego. Primeiro com o post-hardcore jocoso dos galeses Mclusky, depois com o post-rock de inflexão kraut das Electrelane e o sadcore descarnado de Scout Niblett. Esta última parelha é representativa de uma certa tendência da Too Pure, na sua última fase, para as expressões rock no feminino, denunciada também pelas edições europeias das canadianas The Organ e do trio norte-americano The Rogers Sisters.

Inexplicavelmente, ou talvez derivado da conjunta económica, em 2008, a administração do grupo editorial decidiu encerrar a editora, transferindo as bandas ainda no activo para o selo da 4AD. De então para cá, a Too Pure tem dado excelente conta de si como mero singles club de edições esporádicas e de tiragem limitada.

10 DISCOS ESSENCIAIS
  • STEREOLAB _ Switched On (compilação) [1992]
  • TH' FAITH HEALERS _ Lido [1992]
  • PJ HARVEY _ Dry [1992]
  • MOONSHAKE _ Eva Luna [1992]
  • SEEFEEL _ Quique [1993]
  • PRAM _ Sargasso Sea [1995]
  • HEFNER _ The Fidelity Wars [1999]
  • MCLUSKY _ Do Dallas [2002]
  • ELECTRELANE _ The Power Out [2004]
  • SCOUT NIBLETT _ This Fool Can Die Now [2007]

4 comentários:

hg disse...

Para mim há um disco da Too Pure injustamente ignorado por quase toda a gente: Minxus "Pabulum".
Para quem não conheça, aqui fica um bocadinho: http://www.youtube.com/watch?v=MOgKqiIshQk

M.A. disse...

Só conhecia o nome mas, pela amostra, vou ter de remediar isso.

Shumway disse...

Excelente editora. AO longo dos apostou num nucleo reduzido de artistas, mas de excelente qualidade.

No meu Top 10 provavelmente incluia o "Vulvaland" dos Mouse on Mars e o "Houdini" dos Long Fin Killie. :-)

Abraço

Gravilha disse...

há dias voltei a ouvir os Julie Only dos Seely, eles que foram a primeira banda americana a assinar pela Too Pure; na minha cabeça havia uma proximidade muito grande aos Stereolab, que, esta nova audição, com esta camada de tempo em cima, atenuou bastante. é um dos excelentes discos da too pure, que merece a melhor das atenções. e uma discografia completa a (re)descobrir. abraço,