"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

So far away

















Foto: Kate Prior

Os tempos não estão para se arriscar apostas. Se ainda há pouco a prova do segundo álbum era um duro teste que poucos superavam, agora já são muitas as bandas que, após a promessa inicial, se espalham logo no primeiro. Como tal, a rubrica dedicada neste pasquim às novas bandas pode considerar-se um rotundo fracasso. Alegra-me, no entanto, que depois de muito tiro ao lado haja excepções, como foi a do caso dos britânicos Hookworms, que "lancei" aqui. Na altura tinham no currículo um EP imbuído do espírito dos mestres da música expansiva da mente, num espectro que vai dos Velvet Underground ao NEU!, passando pelos Hawkwind. A banda cultivava - e ainda cultiva - também um certo mistério, ao ponto de os seus elementos manterem um certo anonimato, já que oficialmente se identificam apenas pelas iniciais.

A confirmação de tão bons prenúncios acontece com Pearl Mystic, um álbum avassalador lançado nos primeiros meses deste ano mas só recentemente alvo de uma distribuição condigna. Neste, os Hookworms prosseguem os mesmos intentos, se bem que aquelas referências surjam mais pela evocação do filtro dos excelsos manipuladores do drone e do noise de finais de oitentas, como os Spacemen 3 ou os Loop. Quando o quinteto de Leeds investe numa dosagem excessiva de anestesia, também não é descabido lembrar os primeiros Verve. Assim, escrito, nada que os diferencie de milhentas bandas regurgitadoras do passado. Porém, se a maioria da concorrência se limita ao decalque de tiques e truques, em Pearl Mystic absorvem-se e reconhecem-se ensinamentos, mas baralha-se tudo como surpreendentemente novo numa dinâmica entre o espectral e a fúria sónica, às vezes em convivência no mesmo tema. Sem ter propriamente um fio condutor, o disco funciona como um todo, com os três curtos interlúdios como peças de ligação, tanto uma espécie de esvaziamento da tensão de um tema, como crescendo para o seguinte. A peça fulcral, que em certa medida resume Pearl Mystic é o fulgurante épico de abertura (mais abaixo), que nos seus quase nove minutos, incluindo um intro que invoca algo de primal, alterna momentos planantes com berraria projectada pelos ecos da reverberação. Neste última característica exprime-se a afeição (assumida) dos Hookworms pelo hardcore norte-americano, traço distintivo da sonoridade banda como o era nos então mui promissores Crystal Antlers. Tal como desalinho do órgão omnipresente, tela que suporta as mil cores da paleta de sons e confere alguma sujidade "garageira" ao disco.

"Away/Towards" [Gringo / Weird World, 2013]

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