"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Singles Bar #90








MAZZY STAR
Fade Into You
[Columbia, 1994]




Uma década completa passada desde o apogeu do chamado Paisley Underground, David Roback conheceu finalmente o reconhecimento público que há muito lhe escapava. Antes, tinha já militado nos Rain Parade e nos Opal, para além da curta aventura à frente dos Rainy Day, sempre em prol da revisitação do psicadelismo de sessentas. Com os Mazzy Star, que nasceram meio por acaso da dissolução dos Opal, não se alteravam aquelas premissas. Aqui dividia protagonismo com a cantora Hope Sandoval, com a qual andou a pregar aos peixes com um excelente mas negligenciado álbum de estreia, percorrido por temas em lume brando de uma secura quase árida.

Quando, três anos volvidos, foi editado So Tonight That I Might See tudo levava a crer que teria a mesma sorte que o antecessor. Foi preciso esperar um ano, até ao lançamento em formato single de "Fade Into You", para que os Mazzy Star se tornassem uma das referências da América "alternativa" de noventas. Não sendo propriamente o tema mais representativo da sonoridade da banda, teve na sua beleza absurdamente melancólica o isco para cativar diferentes públicos e, eventualmente, tornar-se a sua canção definitiva. Com uma raiz folk mais notória que no anterior trabalho da banda californiana, e com uma produção acetinada por oposição à aridez de outrora, "Fade Into You" é um tema no qual a beleza aparente rapidamente se transforma em assombração perturbante. Numa postura de total abandono, qual fantasma, Hope Sandoval dá sinais de estar estar à beira do abismo. Em toada lenta, diria mesmo de uma preguiça gritante, a guitarra de Roback injecta doses de sedativos, conferindo ao tema algo de narcótico, elemento habitualmente presente na música dos Mazzy Star. É, portanto, tema sugestivo de derivas com vagar por estradas poeirentas de uma América perdida, habitada por outsiders, tal como o respectivo vídeo promocional faz questão de ilustrar. A ponte com psicadelia e a contra-cultura dos sixties torna-se mais evidente com a inclusão de "Five String Serenade", versão de um tema obscuro dos Love, no lado B do single. Se no original esta é uma das canções mais pomposas da autoria de Arthur Lee, fica nesta versão reduzida à mais elementar simplicidade, com guitarra acústica, um ténue violoncelo, e a voz falsamente ingénua da musa Sandoval prestes a desvanecer-se.


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