"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ao vivo #114















Adrian Utley's Guitar Orchestra @ Teatro Maria Matos, 18/12/2013

Das diferentes tendências da chamada música erudita contemporânea, nenhuma outra se terá imiscuído tanto nos meandros pop/rock quanto a do minimalismo. Tanto Philip Glass como Steve Reich, ou até Michael Nyman, já estiveram, de uma forma ou de outra, próximos das vertentes mais populares da música. Porém, o trabalho de Terry Riley é o mais frequentemente citado e apropriado neste universo menos académico. Em particular a obra-prima In C, de uma permissividade que permite a interpretação por colectivos de número de músicos variável e com qualquer instrumento. A composição consiste num conjunto de 53 frases musicais curtas, susceptíveis de alguma arbitrariedade na ordem e no tempo, o que pode resultar em durações totalmente díspares.

Apesar das inúmeras formas em que já foi interpretada, uma apresentação de In C por um ensemble de guitarras eléctricas é, no mínimo, tentador para o público menos conservador. É essa a proposta já tentada em disco por Adrian Utley, numa faceta completamente diferente daquela que lhe conhecemos dos Portishead, e agora trazida ao Maria Matos num conjunto com catorze guitarras, três teclados e um clarinete baixo. Entre os músicos participantes, e como já vem sendo hábito neste tipo de ocasiões, há diversos locais. Para além de relativamente insólita, a iniciativa tem a particularidade de levar ao extremo a liberdade interpretativa que In C permite, já que desta feita a duração de meia hora da gravação original de 1964 é estendida ao triplo daquele tempo. Obviamente, só com muito boa vontade e movidos pela curiosidade poderemos desfrutar destes 90 minutos com um nível de envolvimento permanente. Na verdade, a intensidade imprimida pelos músicos é bastante oscilante, chegando na parte intermédia a uma estagnação que parece não indicar saída. Porém, ela existe, e é seguida na recta final num crescendo de entrosamento dos músicos, proporcionando um final perto do apoteótico. Neste estado inebriado facilmente perdoamos a deriva algo inconsequente da meia hora anterior que, há falta de melhor proveito, serviu para desfazer aquele cliché de que o minimalismo mais não é do que repetição ad infinitum.

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