No Reino Unido parece estar a reviver-se aquele espírito de bandas que existem como comunas. Longe vão os tempos da militância do post-punk, dos Scritti Politti ou dos Gang of Four, mas o convívio permanente dos músicos, com constante troca de ideias e sensibilidades, tem dado alguns bons resultados. Não se pode falar ainda de uma tendência, mas alguns casos recentes levam-me a opinar que, a partir desta opção de vida de algumas bandas, a tão propalada moribunda "cena" britânica está, afinal, de bem melhor saúde que a produção formatada que tem chegado das Américas. Sendo certo, porém, que tal não se reflicta em número de vendas, se é que ainda se vende música.
Um bom exemplo, que cumpre os requisitos mencionados na primeira linha, são os londrinos Fat White Family, responsáveis por um objecto estranho intitulado Champagne Holocaust, datado já dos primeiros meses deste ano mas de edição física bastante recente. Nos onze temas que o compõem, subvertem qualquer noção que possamos ter da regras da canção pop/rock. Mark E. Smith é uma referência assumida, mas talvez apenas naquele sarcasmo, seco e alienado, que é propriedade exclusiva dos britânicos. Em Champagne Holocaust pega-se em estilhaços de country e western spaghetti, em clichés rock'n'roll e restos de bluegrass, mistura-se tudo com algum intervencionismo de esquerda, alteram-se ritmos, adulteram-se estereótipos, e o resultado é algo positivamente marado dos cornos. Paira a sombra de Captain Beefheart, tange-se o mundo maravilhoso criado pelos Clinic há quase década e meia, e evoca-se a frontalidade de eminências post-punk como The Gun Club ou The Birthday Party, mas qualquer comparação pecará sempre por defeito para descrever tão insólito cocktail. Escusado será relembrar aquela frase atribuída a Pessoa sobre certo refrigerante caramelizado...
"Cream Of The Young" [Trashmouth, 2013]
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