THE HOUSE OF LOVE
Babe Rainbow
[Fontana, 1992]
De entre as bandas que se perfilaram para ocupar o lugar deixado vago pelos The Smiths, aquela deverá ter estado mais perto de o conseguir foram os londrinos The House of Love. Nascida em seio indie, a banda tinha ímpetos de grandiosidade, algo que correspondeu com um reconhecimento crescente junto de uma fatia de público também em crescendo. Protagonizaram, inclusive, uma transferência da Creation Records, que lhes editou o álbum de estreia, para o terreno das multinacionais, confirmando Alan McGee, o patrão daquela independente, como o "olheiro" mais astuto da época. Com um segundo longa-duração a merecer considerável aceitação pública e crítica, tudo parecia correr de feição, até que os atritos internos levaram à expulsão de Terry Bickers, o guitarrista prodígio e com o vocalista e letrista Guy Chadwick co-responsável pela composição. Para agravar o cenário, a seriedade dramática de que faziam gala começava a dar lugar nas preferências dos melómanos ao hedonismo da Madchester.
Disposto a um novo fôlego, Chadwick recrutou o guitarrista Simon Walker e tentou provar a si mesmo e ao mundo que havia vida nos House of Love para além de Bickers, entretanto ocupado com os Levitation. O clima era adverso, pois numa época em que uma breve saída de cena poderia significar a perda do momentum, as tendências pop/rock de guitarras eram dominados pelas facções shoegaze e grunge. Como consequência, Babe Rainbow não logrou a receptividade dos antecessores, algo de imerecido pois é um disco à altura daqueles, não só aprimorando a fórmula, como indicando novas pistas. Em "You Don't Understand", o tema de abertura, nota-se uma vontade de expandir o som, já que este é um galope rock com o estádio dos U2 logo ali ao lado. É exemplo isolado no alinhamento, mas indício de ambições de algo maior. O romantismo exacerbado, entre o confessional e o épico, marca registada da banda, domina o disco. Do lote destacam-se "Crush Me", "Cruel" e "Feel", seguidores da tendência dos House of Love para títulos curtos. O primeiro introduz um balanço rítmico que em certa medida é novidade; o segundo, com elementos arabizantes, tem uma letra de certo teor erótico, algo habitual ou não fosse o nome da banda inspirado no título de um romance de Anaïs Nin; enquanto o último é um lamento devastador de solidão. Porém, os pontos altos de Babe Rainbow residem nos momentos de maior intimismo, como acontece na placidez acústica de "Fade Away", na combustão lenta de "Burn Down The World", ou na melancolia lisérgica do soberbo "Girl With The Loneliest Eyes", este com um delicado crepitar de guitarra que anestesia os sentidos.
Pese embora o relativo insucesso de Babe Rainbow, este teria sido um digníssimo canto do cisne, não tivesse a teimosia de Guy Chadwick insistido num quarto álbum medonho, já sem Walker, também expulso. Feitas as pazes com Terry Bickers, em 2005, uma dúzia de anos depois do fim, a dupla criativa reagrupou-se e lançou um álbum que, de forma alguma, limpou a imagem daquela despedida. A redenção ocorreu já no decorrer deste ano, com um disco honroso que, infelizmente, parece ter escapado aos radares das modas.
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