"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Fancy a shag?
















O trio feminino The Shaggs faz parte daquele estrito grupo de obscuridades da pop cujo insucesso comercial em vida não reflecte o carinho dispensado pelas gerações vindouras. O grupo, constituído por três irmãs, nasceu por iniciativa do pai Austin Wiggin, cuja premonição antevia uma carreira de sucesso. Tal não sucederia, pois a inépcia vocal e instrumental do trio não renderia a Philosophy Of The World (1969), o único álbum que deixaram gravado, mais que umas escassas centenas de vendas. Com o fracasso, a banda limitaria a actividade nos anos seguintes a concertos avulsos no New Hampshire natal, até à extinção em 1975, coincidente com a morte do mentor. Entretanto, as suas canções dissonantes já tinham caído no goto de outros subversivos (voluntários) da normalidade como Captain Beefheart ou Frank Zappa, chegando este último a catalogar as The Shaggs como "better than The Beatles". O elogio dever-se-ia, certamente, à sua ingenuidade pop que resultava em estranheza, a mesma que nas décadas seguintes faria a delícia de mais gente que privilegiava a pureza à técnica: de R. Stevie Moore a Daniel Johnston, de Jad Fair a Kurt Cobain.

Recentemente, quase quatro décadas depois do finamento, os mais atentos foram surpreendidos por um regresso insólito, não do trio completo, mas de Dot Wiggin, a guitarrista/vocalista e principal compositora. Caso se duvide do que uma sexagenária com ar de dona-de-casa reformada possa ter ainda para acrescentar, oiça-se o novíssimo álbum Ready! Get! Go!, concebido na companhia de acólitos com carreira em bandas como Shudder to Think, The Left Bank, The Monks, ou Elysian Fields, entre outras. Claro está que esta Dot Wiggin Band tem qualidades de execução que as The Shaggs não tinham, mas nem por isso o espírito original da coisa é subvertido. Assim, para estar ao nível da líder, as vozes de acompanhamento não dispensam a desafinação. Quanto à música destas canções tolas, ainda deriva entre um proto-indie de travo punky e melodias de uma ingenuidade alarmante, com pontos de contacto com os Velvet Underground caso estes fossem liderados por Mo Tucker. Certo de que Ready! Get! Go! não impressionará esta geração capaz de produções ultra sofisticadas sem sair do quarto, gostava de deixar registado que, em 2013, ainda haja gente com coragem de preservar a pureza que a pop tem de mais genuína.

 
"Banana Bike" [Alternative Tentacles, 2013]

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