Sem se conseguir explicar bem o porquê, desde cedo o nome dos Swervedriver foi associado à vaga shoegazer da alvorada de noventas. É quase certo que esta arrumação desajustada da sonoridade da banda fique a dever-se à sua ligação à Creation Records, editora por excelência da "coisa", a mesma dos Ride e dos Slowdive. No entanto, por contraste com a música contemplativa destes, os londrinos eram adeptos do espalhafato, da adrenalina e da sujidade, com uma proposta que ia beber directamente numa América selvagem de estradas poeirentas. As referências tanto podiam ser as do rock mais rebelde de uma vintena de anos antes, como as mais recentes expressões sónicas do indie-rock ianque. Foi sob estas regras que editaram Raise (1991) e Mezcal Head (1993), dois óptimos álbuns que fizeram frente à brigada de guitarras desalinhadas que chegava do outro lado do Atlântico. Até à dissolução, em 1998, haveria ainda tempo para mais um par de registos, menos inspirados e algo desenquadrados das sonoridades plácidas que entretanto dominavam o gosto do público consumidor de música.
Uma década volvida desde o fim, os Swervedriver deixaram-se contagiar pelo síndroma da nostalgia e regressaram ao activo. Desde então, têm pisado os palcos com a assiduidade permitida pela carreira a solo do vocalista Adam Franklin. Só neste que é o ano de todos os regressos aos discos, e com uma agenda de concertos progressivamente mais preenchida, se decidiram a presentear-nos com música nova. O álbum está prometido para o ano que vem, mas já roda por aí um aperitivo que antes apenas estava disponível na edição limitada em vinil colorido, destinada à venda nos concertos. Este novo tema é já um indício de que, no futuro álbum, poderemos contar com todas as marcas identitárias dos Swervedriver, isto é, espirais de guitarras distorcidas, nível de decibéis perto do vermelho, e um mergulho na imagética da América rebelde. Quase aposto que o título seja uma referência à primeira encarnação dos Dinosaur Jr., em jeito de homenagem à banda que mais os terá influenciado na vontade subversiva de fazer as guitarras soar bem alto, precisamente numa altura em que a esmagadora maioria da Inglaterra indie ainda andava deslumbrada com os sonoridades jangly pós-Smiths.
"Deep Wound" [TYM, 2013]
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