"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nigga Wit Attitudes
















Consciente de que não abundem desse lado os adeptos do hip hop, suponho que muitos já terão travado conhecimento com o colectivo Odd Future. Se não, certamente conhecerão Frank Ocean, ou eventualmente Tyler The Creator, ambos integrantes deste numeroso combo de princípios semelhantes aos dos lendários Wu-Tang Clan. Se o primeiro é hoje uma estrela neo soul, e o último uma figura omnipresente no meio, aquele que mais impressionou nos primórdios dos Odd Future foi Earl Sweatshirt, na altura com uns 15 ou 16 anos, mas exímio enquanto MC e com "rimas" que nos fazem estremecer com a tortuosidade da mente desta juventude. Em 2010 lançou EARL, uma curta mixtape com relatos ficcionados, mas na primeira pessoa, de homicídio, violação, ou até canibalismo, que causou choque e louvores em idênticas proporções. Quem não esteve pelos ajustes foi a mãe de Earl, uma activista que, preocupada com os pensamentos desviantes do rebento, o recambiou para um campo de recuperação de jovens problemáticos em Samoa.

Agora com 19 anos, de regresso a Los Angeles, Earl Sweatshirt está também de regresso aos discos com Doris, o primeiro álbum propriamente dito. Ouvido de fio a pavio, leva-nos a pensar que, se relativamente domado no discurso depois do tratamento nas antípodas, o autor não demonstra ainda particular simpatia pela sociedade. Mais que nas palavras, com uso recorrente da n word e demonstrações avulsas de misantropia, Doris é impressionante na alienação expressa nas atmosferas, densas, quase sufocantes. As batidas podem ser secas, mesmo esqueléticas, ou opulentas, que o clima não alivia a sua tensão opressiva. Apesar da idade, Earl apresenta-se como alguém conhecedor do legado hip hop e, como tal, as técnicas hesitam entre a old skool e as produções mais modernaças. É precisamente na produção, com um número talvez excessivo de intervenientes (RZA, Tyler the Creator, Frank Ocean, The Neptunes, entre outros), que reside o pequeno senão de Doris, beliscado na sua homogeneidade. Vista a coisa pelo lado positivo, os diferentes ingredientes adicionados por cada um reforçam o cariz esquizofrénico deste clássico instantâneo do hip hop contemporâneo.

 
"Hive" feat. Vince Staples & Casey Veggies [Tan Cressida / Columbia, 2013]

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