"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 19 de março de 2013

The year that the world broke



















Foto: Dean Chlakley

Também sendo verdade o contrário, há bandas pelas quais não damos um chavo ao começo e que, com o tempo, vêm a revelar-se capazes de operar autênticas revoluções no seio da música popular. Não haverá, com certeza, melhor exemplo do que os dos Primal Scream, dos quais a estreia jangly não fazia deles mais do que uma das muitas bandas indie que, há época, viviam ensombradas pelos Byrds. Mais periclitante se previu o futuro quando se vestiram de cabedal, deixaram o cabelo crescer, e assumiram uma postura rock de travo retro algo bafiento. Nada faria prever que, em alvores de noventas, esta seria a banda que melhor assimilaria a "cultura pastilhada" num portentoso disco que cruzava o rock e a dance music com a eficácia de nenhum outro até então ou depois de então. A partir daí, tornaram-se motivo de seguidismo e não o contrário. Sem esconderem a reverência pelos seus ícones, experimentaram a facção funky do rock, a electrónica vanguardista com contaminações dub, o extremismo noise ligado à mesma electrónica, e ainda sonhos narcóticos temperados com kraut. A longo deste trajecto verdadeiramente camaleónico, duas coisas permaneceram imutáveis: a liderança incontestada de Bobby Gillespie e a atitude irreverente de quem não se conforma com o establishment.

Depois de um par de discos que nada trouxeram de novo ao caminho já trilhado, com o anúncio de um novo trabalho surge sempre a esperança que a carreira desta banda tão imprevisível ganhe novo fôlego. Afinal de contas, já lá vai uma boa década desde o último registo digno de nota. Com a iminência de More Light, a sair no actual contexto mundial lá para meados, não terei sido o único a prever nova insurreição sob a forma de um petardo tão demolidor quanto XTRMNTR (2000). Tanto mais que é conhecido o envolvimento de Kevin Shields e Debbie Googe, ambos dos My Bloody Valentine, o primeiro de regresso às colaborações com a banda, a baixista em substituição (temporária) de Mani, que entretanto se dedicou a 100% ao sonho antigo da reunião dos Stone Roses. Entretanto, sabe-se que esta última, agora também envolvida no regresso dos MBV, já no decurso das gravações, cedeu o seu lugar à desconhecida Simone Butler. Sabe-se ainda que o lote de convidados inclui Robert Plant, Mark Stewart (The Pop Group), e a Sun Ra Arkestra.

Com tais condimentos, a julgar pela primeira amostra e para nossa desilusão, More Light não será a tão esperada revolução que o mundo no seu global, e o mundo musical em particular, precisam. O tema em questão, que leva o título do ano em curso, mais não é do que um tema na linha do anterior trabalho, o relativamente desapontante Beautiful Future (2008). No entanto, há que enaltecer o brilhante tratamento de guitarra, cortesia de Kevin Shields, e o desenvolvimento de um mantra psicadélico na versão longa que se apresenta mais abaixo. Igualmente nesta versão, ganha todo o esplendor o magnífico vídeo realizado por Rei Nadal. Uma nota ainda para as invectivas panfletárias apontadas aos "senhores do poder", ou não fosse este o ano de todas as convulsões. Portanto, nem tudo estará perdido se os restantes temas não resumirem o inconformismo a pouco mais do que palavras.

 
"2013" [First International, 2013]

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