Foto: Zoran Orlic
É impressionante verificar que, assentes numa linguagem tão rigorosa quanto a do slowcore, que muitos previram efémera, os Low já levam vinte anos de carreira. Neste trajecto, contudo, não se livram dos reparos de alguns detractores, que apontam o catálogo da banda de Duluth, Minnesota, como pouco variável, trazendo muitas vezes à colação os exemplos da brevidade dos percursores Galaxie 500 ou Codeine, ambas as bandas finadas antes de caírem no espartilho da repetição. No entanto, só um surdo não notará nestas duas décadas de Low uma evolução constante, sem corromper a fidelidade aos princípios básicos. Assim, após a austeridade da lentidão quase mórbida dos primórdios, abriram frestas que tornaram a sua música mais arejada. Já mais recentemente, a distorção passou a ser ferramenta assídua, e o volume subiu a níveis em desacordo com o nome da banda. Neste percurso, foi precioso o trabalho de diferentes produtores de renome no meio (Mark Kramer, Steve Fisk, Steve Albini, Dave Fridmann), cada um a tirar diferente partido do modus operandi quase imutável da banda.
Para o novo The Invisible Way, o décimo álbum da carreira, os Low requisitam pela primeira vez o trabalho de produção de Jeff Tweedy, que com eles partilha um certa maneira muito norte-americana de abordar a tristeza que não esquece o romantismo. As gravações do dito tiveram lugar em Chicago, no The Loft, estúdio propriedade dos próprios Wilco. Perante a abundante oferta de meios técnicos, a banda responde com um disco exemplarmente gravado, embora seja o mais despojado de adereços de todo o seu catálogo, resumindo cada um dos onze temas a uma estrutura simples, mais melódica que o habitual. Dos assomos fuzzy trazidos do convívio com Fridmann, temos apenas uma pequena amostra na segunda parte de "On My On", por sinal o tema mais longo de um disco contido na duração dos mesmos. Abunda o piano, e a electricidade das guitarras escasseia, aprofundando-se o mergulho nas raízes americana. Embora a melancolia paire em cada nota, em cada palavra, e apesar de se abordarem temas tão pessoais como o calvário das drogas ou a depressão, há em The Invisible Way algo de pacificador, como se os Low nos quisessem exprimir a esperança de melhores dias. Mimi Parker, que habitualmente assume o protagonismo vocal num par de temas de cada disco, é a dona do microfone num total de cinco temas, qualquer deles incluídos no melhor lote do álbum. Inclusive nos temas cantados pelo marido Alan Sparhawk, a voz dela é praticamente omnipresente, qual anjo da guarda que atenua com a sua graciosidade as palavras de maior negativismo.
"Just Make It Stop" [Sub Pop, 2013]
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