"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 29 de março de 2013

Re-make / Re-model

















Foto: Phil Sharp

Embora não pareça, poucas bandas se podem gabar de ser tão influentes nos sectores leftfield das música popular das últimas três décadas quanto os ingleses Wire. Talvez a falta de evidências advenha da disparidade do genial triunvirato que são os primeiros álbuns. Nesses, os londrinos partiram de uma abordagem distanciada e arty - mas nada presunçosa - ao punk, para, num ápice evoluírem para formas de canção que, embora acessíveis, fugiam à estandardização do que até aí fora feito. Ao longo dos anos, extinguiram-se e reagruparam-se por várias vezes, mantendo desde 1999 um plano de actividades significativamente regular. Neste que é o seu período de vida ininterrupta mais longo, é de assinalar o álbum Send (2004), o mais abrasivo de todo o seu catálogo e um veículo para dizer "presente!" ao contingente de neófitos do noise que então dava cartas.

Quem parece estar bem ciente da importância da sua obra de finais de setentas é a própria banda, que opera uma revisitação a esse período com o novíssimo Change Becomes Us, o décimo terceiro longa-duração de uma carreira sem mácula. Para tal, foram recuperados treze temas metidos na gaveta em época post-punk, agora concluídos à luz do saber acumulado ao longo dos anos, insuflado de sangue novo com a entrada do guitarrista Matt Simms, dos indie-poppers It Hugs Back. Por conseguinte, quando Colin Newman assume o papel de vocalista, a proposta deriva, ora para a secura do debutante Pink Flag (1977), ora para a frieza de emoções que percorria Chairs Missing (1978). Já quando é Graham Lewis a ocupar o mesmo lugar, a toada é menos visceral, relembrando a contemplação atmosférica de 154 (1979). Em ambos os casos, como já é costume, as letras enveredam por um abstraccionismo quase impenetrável. Embora não trazendo nada de novo à constante evolução na imprevisibilidade que tem sido a carreira dos Wire, Change Becomes Us é o relembrar, para os mais distraídos, da magnitude de um trio de discos essencial para entender a música de ontem, de hoje, e de amanhã.


"Re-Invent Your Second Wheel" [Pinkflag, 2013]

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