"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 13 de março de 2013

Singles Bar #83









THE JAM
Town Called Malice
[Polydor, 1982]




Com uma carreira de edições discográficas a bom ritmo, acompanhadas do reconhecimento público e crítico, os The Jam operaram mais que uma metamorfose estética no curto prazo de cinco anos. Da fúria punk que percorre o ainda juvenil In The City (1977), já pouco ou nada resta no derradeiro The Gift (1982), um álbum todo ele reverente às memórias da música negra. Neste percurso houve, claro está, uma evolução gradual, que passou também por um período intermédio de (re)descoberta da música de sessentas, em particular das sonoridades e dos códigos mod.

Em pleno pico do sucesso comercial, aquele último álbum talvez tenha sido, à época, uma jogada arriscada, algo que se traduziu numa recepção morna da crítica e mais moderada do que o costume por parte do público. Por ironia, o longa-duração foi anunciado por aquele que haveria de ficar como o mais paradigmático dos muitos singles de sucesso dos The Jam, alcançando, inclusive, significativa projecção nos Estados Unidos, território tradicionalmente hostil para bandas quintessencialmente britânicas. Escutado hoje, há distância de mais de trinta anos percebem-se os porquês do efeito retumbante de "Town Called Malice", um tema rock que, como poucos, faz perdurar o eficácia groovey junto das várias gerações que tem atravessado. A principal razão será, com certeza, o rápido reconhecimento das fontes de inspiração, provenientes da incontornável década de sessentas. Na circunstância, não se pretende sequer disfarçar a linha rítmica surripiada a "You Can't Hurry Love", das Supremes, tanto na percussão com "palmas", como na inconfundível e insidiosa linha de baixo de James Jamerson. Também o órgão em delírio rítmico é reminiscente da mesma era, mais concretamente do Spencer Davis Group, percursor dos The Jam em mais de uma década enquanto britânicos e brancos exploradores da América negra. Mas, se a música já nada reflecte das origens punk do trio, na letra, Paul Weller não deixa de lado a consciência social e política. "Town Called Malice" é mais uma das suas ardilosas reflexões sobre o quotidiano do Reino Unida no tempo do Thatcherismo. Neste caso, fala-nos da constante luta que é a vida nas pequenas cidades, com a bebida como passatempo habitual e o desemprego como realidade para muitos. A acompanhar o tema principal, "Precious", na sua versão editada, é também ele um festim de incitação à dança. Imbuído do espírito libertino de setentas, abarca tanto a soul mais "progressiva", como o funk, com abundância de guitarras wah-wah e sopros ébrios de fisicalidade.

Mas, se Paul Weller era o principal promotor do novo rumo dos The Jam, Bruce Foxton (baixista) e Rick Buckler (baterista), mais filiados nas tradições pub-rock britânicas, não pareciam tão entusiasmados com a ideia. As divergências musicais acabariam por ditar o fim abrupto, para desgosto de uma vasta falange de seguidores de uma das bandas mais valorosas da Inglaterra do seu tempo. Nada que abalasse particularmente Weller, que em três tempos punha em prática as mesmas ideias com os The Style Council, laboratório de experiências de sofisticação pop, recebido com relativa frieza no seu tempo, mas visto hoje como projecto pioneiro na assimilação da música negra em cenário pop. E ainda, acrescente-se, a consagração definitiva do seu mentor como Modfather.


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