"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ao vivo #101

















Ben Frost - Music for Six Guitars @ Teatro Maria Matos, 20/12/2012

Talvez porque fosse a véspera do dia marcado para o fim dos tempos, o Maria Matos presenciou, há uma semana exacta, o regresso de Ben Frost àquele palco. Escolha adequada para a data, se tivermos em conta que este músico australiano desterrado no rigor da Islândia tem povoado a sua obra discográfica com sugestões do medo e das trevas. Porém, não trazia na bagagem um reportório baseado nessa obra gravada, nem na sua implícita tenebrosidade, mas sim o espectáculo Music for Six Guitars, por si composto e concebido para formações de músicos flutuantes.

Para a paragem em território nacional, e um pouco à semelhança do que acontece por onde passa com este conceito, Ben Frost fez-se valer de músicos quase na sua totalidade recrutados na "cena" local. Com ele estiveram seis guitarristas habituados a operar nas franjas do rock, e ainda um sexteto de sopros (três trompas e outros tantos trombones), este composto por gente da Orquestra do Conservatório do Porto. No meio da assistência, de frente para o palco, Ben Frost era o responsável pela manipulação electrónica e pela direcção da peça musical a rondar a hora de duração. Dispostos ao acaso, sem pautas, os guitarristas deambulam livremente, deixando escapar muitos maneirismos da postura rock. Neste particular, faltou o rigor "erudito" a que já assisti, por exemplo, num espectáculo similar sob a direcção de Glenn Branca, no qual os músicos, estáticos, são secundarizados pela direcção do maestro. Na sua estrutura, Music for Six Guitars segue uma sequência óbvia, sem sobressaltos à lógica: entrada sob o domínio das guitarras, primeiro "desamplificadas", depois em uníssono ultra ruidoso; juntam-se-lhes os sopros que, posteriormente, são centro das atenções; final novamente ao som das guitarras que esmorecem num final, uma vez mais, desprovido de amplificação. Nesta simetria, o ponto alto é aquele em que o apogeu sónico toma conta dos sentidos, logo no primeiro terço do espectáculo. Talvez este efeito tivesse sido superado se Ben Frost tivesse optado por melhor conjugação da ruideira das guitarras com a dissonância dos sopros mas, na equação final, fica a sensação de que os metais tenham sido subaproveitados. Neste concerto de sabor agridoce, portanto com altos e baixos, uma palavra de apreço pela meia dúzia de guitarristas, (quase) incansáveis na fisicamente desgastante tarefa de repetir os mesmos escassos acordes ao longo de toda a sua prestação.

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