"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Algo de novo no reino














Já lá vai uma boa dúzia de anos desde que os Clinic, quarteto de Liverpool em ruptura com a herança musical da cidade, surpreendeu o mundo pop/rock. Na bagagem traziam Internal Wrangler, um curto e magistral disco que, com um cunho muito pessoal, conjugava o melhor do rock mais marginal de sessentas, com igual veneração pela toxicidade dos Velvet Underground como pela sujidade garage dos Monks e afins. No registos seguintes, a banda apostou nesta mesma fórmula, com evoluções tão subtis que eram menos visíveis que as inovações na indumentária, sempre com as imprescindíveis máscaras de cirurgião responsáveis por uma certa aura de mistério. Apesar da aposta numa certa coesão, que nunca rendeu discos inferiores ao bonzito, há muito que os seguidores suspiravam por desenvolvimentos mais notórios. Só em Do It! (2008), em minha opinião o melhor dos seus discos logo a seguir ao de estreia, os Clinic apresentavam novidades significativas. Neste, apostava-se numa sonoridade mais contemplativa, a espaços próxima de uma espécie de lounge narcótico.

Desde há umas semanas, e até nova ponderação mais distanciada, o estatuto de Do It! como segundo melhor disco dos Clinic pode muito bem estar ameaçada por aquele que é o seu sétimo longa-duração. Sem adulterar a identidade da banda, Free Reign é também o seu disco mais refrescante no que a novidades diz respeito. O rock ácido, quase esquizofrénico, ainda está presente, mas em doses mais diluídas. Os temas são agora mais ponderados, menos urgentes, apostando em técnicas de indução como o dub. As guitarras estão ainda bem presente, mas cedem o protagonismo aos teclados e à muita manipulação electrónica. A sensualidade inerente às canções dos Clinic, outrora detectável apenas nas referências sexuais decifráveis, é agora mais notória, muito por causa da colocação da voz de timbre nasalado de Ade Blackburn, mais cristalina no todo. Para a mistura de um par de temas foram requisitados os serviços de Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never), que tratou de sublinhar o carácter lisérgico dos mesmos. Desta série de novas apostas dos Clinic resulta uma hipotética banda sonora para filmes de outros tempos, série B como os de sempre, sem o mesmo teor críptico, mas de maior torpor induzido.

 
"Miss You" [Domino, 2012]

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