"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ao vivo #100


















Lumerians + Black Bombaim @ Centro Cultural do Cartaxo, 07/12/2012

Com uma aliciante programação sobretudo para os adeptos da psicadelia, o Centro Cultural do Cartaxo é a prova de que, com vontade e persistência, é possível agitar as águas mesmo fora dos grandes centros urbanos. Os esforços de quem organiza e promove têm sido recompensados, com a crescente adesão de público a cada novo evento. 

Na passada sexta-feira, a boa massa humana presente pôde assistir a uma prestação competente, mas não propriamente deslumbrante, dos franciscanos Lumerians, nome diminuto para a esmagadora maioria dos melómanos, mas de relativo culto junto das hostes do psicadelismo. Na bagagem, o quinteto trazia um novo álbum, privilegiado na escolha do alinhamento. Dos novos temas fica a sensação de que enveredam uma toada mais dançante, consequentemente mais acessível, que poderá render algum airplay em espaços nocturnos que não limitam as suas escolhas musicais ao óbvio. Nestes, sobressai a riqueza instrumental, assente numa panóplia de ferramentas com que a banda faz de cada tema um colorido de sons. O pequeno senão dos mesmos é o facto de os Lumerians quererem mimetizar cada tique das suas referências, sem se decidirem por uma orientação definida. Assim, um tema decalcado do pioneirismo dos Silver Apples dá lugar a um outro cujo início surripia "Tomorrow Never Knows" dos Beatles, e este, por sua vez, antecipa mil e um lugares-comuns do kraut. É, por conseguinte, nos temas mais antigos que os Lumerians afirmam alguma personalidade, nomeadamente com pinceladas de tropicalismo - cortesia de um jovem percussionista - em texturas sonoras narcóticas.

Igualmente inspirados em referências facilmente reconhecíveis, os barcelenses Black Bombaim têm a virtude de explorar uma ideia concisa, sem pretensões a disparar em diferentes direcções. Não obstante a colagem a nomes do heavy psych e do stoner (de Hendrix aos Black Sabbath, dos Blue Cheer aos Stooges), o trio revela uma personalidade bem vincada, adquirida pela experiência de estrada e pela qualidade de execução dos seus músicos. Em consequência, não só têm uma prestação acima do nível da dos cabeças-de-cartaz, como se afirmam como dos poucos capazes de agitar o actual marasmo da música nacional. Os longos temas instrumentais assentam numa variedade de riffs infernais e elípticos, coadjuvados por um groove demolidor que confere significativo balanço à proposta. Dos três excelentes jovens músicos, destaque para o guitarrista, dono de uma precisão que não sai beliscada pela rapidez de execução quase sempre exigida. Exemplo disso é o último tema, por sinal o mais curto do alinhamento: uma espécie de tratado de riffologia com constantes ataques groovey da secção rítmica. Depois da trip lisérgica a que os Black Bombaim conduziram a assistência, este derradeiro tema, pela sua urgência e pela sua violência rítmica, assinala um final em apoteose quase orgásmica.

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