"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Discos pe(r)didos #59








PAUL QUINN & THE INDEPENDENT GROUP
Will I Ever Be Inside Of You
[Postcard, 1994]




Com uma carreira demasiado irregular para merecer esse nome, Paul Quinn é um dos segredos mais bem guardados da riquíssima pop escocesa. Na mesma medida em que é também uma das suas figuras mais singulares, dono de um barítono capaz de exponenciar a dolência de cada canção a níveis exasperantes. Em meados de oitentas encabeçou os Bourgie Bourgie, projecto de vida curta que militava entre os resquícios post-punk/new-wave e pop a sofisticada que então eclodia. Foi também backing singer dos Orange Juice, liderados pelo amigo Edwyn Collins, um dos seus maiores entusiastas. Talvez por sua causa, na tentativa de resgatar um imenso talento ao esquecimento, Alan Horne reactivou a mítica Postcard Records e em seu torno reuniu o The Independent Group, combo que reunia o próprio Horne e mais uma série de músicos com currículo na "aristocracia pop" escocesa (Aztec Camera, Orange Juice, The Commotions).

O primeiro fruto deste Paul Quinn renascido foi The Phantoms And The Archetypes (1992), disco ainda à procura de definição de azimutes mas já com alguma vontade de grandiosidade. Algo de maior viria a acontecer dois anos depois, com a edição de Will I Ever Be Inside Of You, disco assombroso propício a ambientes nocturnos que poderia ter saído da imaginação de um Scott Walker, caso este não sofresse há muito de uma alergia aguda à pop. Logo a abrir, o longo tema-título elucida o ouvinte do trilho a seguir. Alarmante confissão de amor não correspondido capaz de causar inveja a um tal de Morrissey,  "Will I Ever Be Inside Of You" cruza Bowie, Billy Mackenzie, e o citado Walker, mas deixa bem explícita a expressividade e a verve únicas de Quinn. Sustentado pelas texturas dos teclados e pelos solos inebriantes de guitarra, abre ainda espaço para o lamento de uma voz feminina próxima do lírico.

Após a apoteose da abertura, Will I Ever Be... mantém a aura de melancolia dolente e de desencanto ao longo dos restantes oito temas, metade deles ainda acima dos seis minutos de duração. Em ritmo downtempo, "Lover, That's You All Over" é uma crua e sentida confissão de um amor perdido. Reforçando a ambiência nocturna, e insuflado de teclados densos, "A Passing Thought" é solidão desesperada traduzida em canção. Mais solto, e substancialmente mais próximo da desenvoltura pop com inflexões jazzísticas, "Stupid Thing" aponta o dedo ao "outro", com o cantor a no papel de acusador, algo familiar ao tal de Morrissey. De duração muito abaixo da média, "Misty Blue" é a balada nostálgica perfeita para fim de noite dedicada à introspecção. Seria o encerramento adequado deste portentoso disco, caso esse papel não coubesse a "At The End Of The Night", lamento sofrido mas que abre uma fresta para a esperança depois da expiação de uma imensa dor.


"Will I Ever Be Inside Of You"


"A Passing Thought"


"Stupid Thing"

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