"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Discos pe(r)didos #54








ROLLERSKATE SKINNY
Horsedrawn Wishes
[WEA, 1996]




Excluindo o caso dos bem conhecidos "mensageiros da paz", e vários projectos mais ligados à folk, são muito poucos os casos de bandas provenientes da Irlanda a penetrar o circuito mundial da música popular. Este blogue até sente mais afinidades, por exemplo, com os My Bloody Valentine, mas esses são geralmente confundidos com ingleses por terem assentado arraiais em Londres. Relacionados com estes, porque incluíram na formação Jimi Shields, irmão de um tal Kevin, os Rolleskate Skinny (RS) jogam numa divisão secundária no que respeita a exposição mediática. Curiosamente, aquando da gravação do seu segundo e mais representativo álbum, já aquele multi-instrumentista tinha abandonado o barco, cansado das constantes referências na imprensa às ligações familiares.

Reduzidos a trio, os RS partiram para a gravação de Horsedrawn Wishes apostados em desfrutar na plenitude das possibilidades de um moderno estúdio de gravação. Daí resultou uma hora de música que, num primeiro contacto, se estranha, não porque embarque na bizarria gratuita, mas pela ausência de referências óbvias. Com a insistência, o ouvinte é seduzido pela complexidade estrutural que liberta vapores narcóticos, mas que, em momento algum, se afasta dos princípios norteadores da pop. Experimentem ouvir "Cradle Burns" e tentem ficar imunes ao tropel da invulgar cadência das guitarras. Ou então o brilhante "Speed To My Side", que recontextualiza o psicadelismo dos Beatles à luz dos ensinamentos shoegazing. Noutros momentos, os RS fazem valer o seu poder lisérgico, como nos casos do submerso "Bell Jars Away" ou do contemplativo "All Mornings Break". Apostados na cacofonia, mas suficientemente disciplinados, "One Thousand Couples" e "Man Under Glass" rejeitam demasiada proximidade com a anarquia ensandecida dos primeiros Mercury Rev. 

No todo, impressiona a capacidade da banda em preencher cada espaço, fazendo de cada tema uma pequena sinfonia, seja através da gama de efeitos aplicados nas guitarras, seja pelos adornos de cordas e electrónicos embutidos a preceito. Não é por acaso que, na ficha técnica, são creditadas orquestrações a todos os músicos envolvidos.

Laureado pela crítica, mas com sucesso comercial insuficiente para os parâmetros de uma multinacional, Horsedrawn Wishes precipitou o fim do RS. Desde essa morte prematura, todos os seus membros se têm mantido activos em projectos pouco mais que obscuros. Mas nada que os possa envergonhar, pois no currículo podem ostentar, com orgulho um dos grandes discos da década de 1990. Um daqueles que, embora semi-esquecido, se escuta com renovado deleite volvidos 15 anos.


"Cradle Burns"


"Speed To My Side"


"Bell Jars Away"

Sem comentários: