James Blackshaw + Nancy Elizabeth @ Teatro Maria Matos, 27/06/2011
Seguindo a lógica da óptima programação de concertos a que o Maria Matos nos tem habituado, ontem foi a vez de uma dupla com pergaminhos nos derivados mais livres da folk britânica. Ele, já com vasto reconhecimento, é um jovem prodígio na arte do fingerpicking, ela, embora com menor visibilidade por cá, é dona de uma obra já considerável.
A abertura do espectáculo cabe a James Blackshaw, sozinho em palco com a sua guitarra. Apresenta um pequeno número de peças, normalmente longas, que progridem lentamente até à rebentação seguida de um lento desvanecer. A técnica, mesmo aos olhos de um leigo, é apurada. Mais do que na sucessão de acordes, baseia-se na afinação das cordas. Por isso, são longos os interlúdios entre temas, ocupados no apuro do instrumento e pontuados pela timidez simpática do músico.
A solidão em palco é interrompida com a entrada em cena de Nancy Elizabeth que, ao piano, acompanha o guitarrista num despique inebriante para os sentidos. O segundo tema em conjunto, mais não é do que uma pequena brincadeira, com os músicos a trocar os papéis. É então que Elizabeth, em solitário, liberta aquela voz que, não sendo a de uma Sandy Denny, tem as cambiantes e a versatilidade para impressionar o espectador mais exigente. Ora no piano, ora na guitarra, passa em desfile um conjunto de canções delicadas, melancólicas e fantasiosas, ao melhor estilo britânico. À beleza da voz, a cantora junta um sentido de humor subtil, usado amiúde para quebrar o gelo do recolhimento das canções.
Para o encerramento, já em encore, a dupla é refeita para cada um exibir o melhor de si. Ele urde emaranhados de notas com uma cadência e um aprumo impressionantes, ela acompanha a delicadeza do piano com um estranho jogo vocal. Foi o final perfeito para um concerto de um virtuosismo discreto e sóbrio, essencialmente a apelar aos sentidos. A receita ideal para a segunda-feira seguinte a um fim-de-semana de intenso reboliço.
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