"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 29 de junho de 2011

10 anos é muito tempo #30








LIFT TO EXPERIENCE
The Texas-Jerusalem Crossroads
[Bella Union, 2011]




Corria o ano de 2001 e o mundo na generalidade, desassombrado da recente tensão pré-milenar, vivia a euforia de uma nova era. Não era o caso de três jovens texanos, reunidos sob a designação Lift to Experience e disfarçados por densas pilosidades, que vislumbravam um mundo em desagregação, carregado de violência sanguinária, mesmo à beira do apocalipse. Em sua defesa traziam um disco vagamente conceptual que, com ar crítico, aventava a hipótese de os Texas ser o centro da cidade santa de Jerusalém. Musicalmente, a oferta era ainda mais insólita. Partindo de um sentir assente na tradição country, o trio descarregava muros de distorção alinhados com os My Bloody Valentine, desenvolvendo, em paralelo, emaranhados épicos próprios de uns Kitchens of Distinction.

The Texas-Jerusalem Crossroads divide-se em dois discos: um primeiro, intitulado "Texas", obviamente mais virulento e agressivo; e um segundo, com o título "Jerusalem", que liberta uma aura redentora. Ambos se completam, com as suas onze (longas) canções que, interdependentes, discorrem abundantemente sobre questões religiosas, recorrendo amiúde a passagens bíblicas. A perspectiva de Josh T. Pearson, o mentor do projecto e autor das letras e da música, é mais a de um crente que questiona os planos do Criador do que, propriamente, a de um devoto cego. Ao que consta, a dúvida nasce da experiência pessoal, pois o pai do cantor e guitarrista era um pastor que privilegiava a pregação em detrimento do bem-estar da família. Ao longo de todo o disco, a voz, possante e límpida, paira acima dos novelos de distorção, como um anjo perto de tocar o firmamento. Nos momentos mais contemplativos, é impossível não estabelecer paralelismos com Jeff Buckley, se bem que numa faceta mais sóbria que atormentada.

A experiência da audição de ...Crossroads é de tal forma arrebatadora que, quando no fulcral "These Are The Days" são proferidas as palavras "A new sort of experience is taking over / 'cos we're simply the best band in the whole damn land", o ouvinte, empolgado pela novidade da oferta, concorda sem hesitações. Fazendo jus à velha máxima que diz que as experiências mais marcantes são as mais fugazes, os Lift to Experience implodiram pouco tempo depois daquele que foi o seu único álbum. Até hoje, continuam por confirmar os rumores que davam conta de um eventual "disco perdido". Como consolo, este ano já assistimos ao celebrado regresso de Josh T. Pearson, resgatado de um longa deriva errática que contou, inclusive, com um período de abandono absoluto das lides musicais. Regressa mais próximo das raízes country, mas igualmente mesmerizante no capítulo emotivo.


"Just As Was Told"


"These Are The Days"


"Falling From Cloud 9"

3 comentários:

strange quark disse...

Querias tu dizer que "Corria o ano de 2001..."

M.A. disse...

Registado e corrigido! O hábito é tramado... Thanx, mate!

hg disse...

Que disco! Tão grande!