TELSTAR PONIES
In The Space Of A Few Minutes
[Fire, 1995]
Mais do que uma banda no sentido estrito do termo, os Telstar Ponies devem ser vistos como um projecto pessoal de David Keenan. Em seu redor, e para além da "fixa" Rachel Devine (segunda vocalista, guitarrista e teclista), reuniu um conjunto de músicos com passado e/ou futuro em bandas com maior nome na "cena" de Glasgow, tais como os Soup Dragons, os Teenage Fanclub e os Mogwai. Antes, ele próprio já tinha passado pelos 18 Wheeler, os brit-noise-poppers que um dia estavam a servir de cabeça de cartaz para uns imberbes Oasis, para, volvidos poucos meses, verem esse papel invertido com a banda dos manos Gallhager. O episódio faz parte do anedotário pop, mas Keenan partiu cedo rumo a outras aventuras musicais.
In The Space Of A Few Minutes foi o primeiro resultado desse novo propósito e, pelo menos à época, sai relativamente deslocado daquilo que era aceite como o disco pop convencional, mesmo dentro dos parâmetros indie e similares. Abre com "The Moon Is Not A Puzzle", uma espécie de abrandamento do rock sónico de ascendência americana, em particular de uns Sonic Youth da afirmação de finais de oitentas, com a alternância das vozes masculino/feminino a estabelecer profundas afinidades com os duetos do casal Moore-Gordon. Tal como a maioria dos restantes temas, ronda os cinco minutos de duração, tempo suficiente para as guitarras desenharam texturas planantes. Em "Lugengeschichte" é indisfarçável a contaminação kraut-rock, bem evidente na cadência mecânica do baterista Brendan O'Hare. É um dos raros momentos em que a voz de David Keenan se eleva muito para além do leve sussurro. O outro é "Monster", o lado mais negro do disco que, da combustão lenta da parte inicial, transmuta-se, no refrão, em algo próximo da monstruosidade do título, com berros insanos e o despique desenfreado da guitarra e do órgão em desalinho. Já "Not Even Starcrossed" é um convite à deriva espacial, algo próximo das linguagens de uns Flying Saucer Attack, embora menos denso, mas com idênticas descargas eléctricas.
É no par final de temas que In The Space... melhor sublinha o papel de antecessor de algumas expressões do chamado post-rock instrumental de cariz cinemático (Godspeed You! Black Emperor, Mogwai), algo já antes aflorado com alguma evidência no lento fluir do tema "Maya", embora sem os excessos dos sucessores. "Innerhalb Weniger Minuten" faz-se de uma dinâmica entre calma e tensão, alternância sobre a qual paira a voz declamada e desencantada de Rachel Devine. Por seu turno, na sua toada lenta e delicada, o derradeiro "I Still Believe In Christmas Trees" estabelece a ponte entre tais linguagens e os antecedentes slowcore.
Escassos meses volvidos, e com uma formação renovada, os Telstar Ponies editaram Voices Of The New Music, um mergulho mais profundo na experimentação com a inclusão de elementos de world music e free jazz. Até à data, é o último longa-duração do projecto, entretanto lançado numa dormência aqui e ali interrompida por esporádicas edições em pequeno formato. Entretanto, David Keenan tem ocupado boa parte do seu tempo com a actividade de jornalista nas franjas da música popular, tanto como biógrafo (Coil, Current 93, Nurse With Wound), como na qualidade de colaborador da revista Wire, na qual foi responsável pela "cunhagem" do rótulo hypnogogic pop, hoje empregue com alguma assiduidade nas mais variadas publicações.
"The Moon Is Not A Puzzle"
"Monster"
"I Still Believe In Christmas Trees"
3 comentários:
Tenho que ouvir isto, mas agora não tenho tempo que estou a preparar a minha deslocação a Vila Real amanhã. Esta tua rúbrica mostra umas coisas bem interessantes.
A nossa discografia dos 90 tem tantas mas tantas semelhanças. Estes também por lá andam nas minhas prateleiras.
Pois parece que sim... Segundo sei, uma das diferenças tem a ver com o senhor do post imediatamente a seguir ;)
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