"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ao vivo #61















Swans + Powerdove @ Aula Magna da U.L., 09/04/2011

Aquando do anúncio do regresso já nos tinham avisado que este não era uma mero exercício de nostalgia. Outra coisa não seria de esperar dos Swans, a mais idiossincrática das bandas saídas do post-punk nova-iorquino que, em qualquer uma das duas existências, sempre recusou a estagnação. Aliás, sob pena de errar porque apenas baseado em relatos, diria que nesta nova reencarnação recupera o espírito primordial, já sem o fustigar de ruído provocador do vómito na assistência, mas com a experiência geradora de uma massa sonora que abanou - literalmente - as estruturas da Aula Magna. Desse passado gravado na página dos mitos, a nova formação integra apenas o guitarrista Norman Westberg e, obviamente, o agitador de consciências Michael Gira.

O concerto do passado sábado inicia-se com um interminável drone, com a banda ainda ausente do palco, e com alguma impaciência a manifestar-se nalgumas falanges do público. Está instalado o desconforto, até que os músicos vão entrando, espaçadamente e um a um, juntando novas tonalidades ao monolito que se desprende das colunas de som. Acoplado ao intro, surge "No Words / No Thoughts", uma transfiguração do tema que abre o último My Father Will Guide Me Up A Rope To The Sky, completando um número que roça a meia hora de duração. Este disco, tal como o previsto, compõe uma boa parte da ementa da noite, pese embora, cada tema surja numa versão completamente adulterada e por vezes irreconhecível, tal o esventramento infligido pelo sexteto. Alternando com segmentos relativamente planantes, são comuns os crescendos espasmódicos com volume no vermelho. Nestes ápices sónicos, a banda revela uma precisão assinalável, em boa parte responsabilidade do baterista Phil Puleo, que pauta o ritmo demolidor e obriga guitarristas e baixista a seguirem cada uma das pancadas da baquetas com o olhar, criando uma ambiente de comunhão macabra. No plano individual, ainda uma nota de destaque para Thor Harris, que já "conhecia" de uma inspirada prestação com os Shearwater, municiador das especiarias que apuram o cozinhado, não só por via dos inúmeros instrumentos de percussão, mas também por alguns apontamentos de sopros dissonantes.

No capítulo das recuperações mais longínquas no tempo, o alinhamento inclui "I Crawled" e o emblemático "Sex, God, Sex". Neste último, um Michael Gira pungente remata com um urro sacado das entranhas. De resto, a voz de barítono da qual (aposto) a ala feminina esperaria maior evidência, remete-se aos serviços mínimos, apenas sublinhando a tensão nos raros instantes de trégua sonora. Tal como aposto que, uma boa parte do público desejaria um ou outro piscar de olho ao flirt com um certo sentir "gótico" que marcou a fase mais "mediática" (e desinspirada, acrescente-se) dos Swans, assinalada por alguma aproximação ao formato mais estandardizado da canção. Mas, mais do que virada para a emoção, a noite estava destinada aos sentidos. E esses saem saciados ao fim de duas horas de violentação sónica...

Como aperitivo para o prato principal, a assistência foi brindada com a música de Powerdove, alter-ego de Annie Lewandowski, uma norte-americana actualmente a residir no Reino Unido e que navega numa toada folk acústica, não necessariamente freak, e dona de uma voz bonita e frágil que contrasta com a robustez física da intérprete. A acompanhá-la traz um outro guitarrista e juntos debitam um conjunto de canções curtas, simples mas melodiosas, e com um ligeiro travo twee. Propiciaram a anestesia perfeita antes do esperado espancamento a cargo das "estrelas" da noite.

2 comentários:

strange quark disse...

Concerto do carágo!

Quando chegar a vez do Ben Frost digo-te como foi.

O Puto disse...

Vai já para a lista dos melhores do ano. Eu gosto da fase mais "mediática". Não gostei muito da primeira parte.