"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Discos pe(r)didos #49








THE AMPS
Pacer
[4AD, 1995]




Ansiosa por dar continuidade ao inusitado bom acolhimento a Last Splash (1993), Kim Deal viu-se a braços com as constantes entradas da irmã Kelley em clínicas de desintoxicação. Gravar novo disco com a chancela The Breeders sem a mana estava fora de questão, pois ambas eram forças criativas do projecto. Para dar vazão à sede rock, a ideia inicial era gravar um disco totalmente em solitário, sob a denominação The Amps, sugerida pelo amigo e conterrâneo de Dayton, Ohio, Robert Pollard (Guided by Voices). Uma mudança brusca de planos levou-a a resgatar o baterista Jim MacPherson à sua "banda a tempo inteiro", e a recrutar uma parelha de músicos locais, compondo assim (mais) uma banda de corpo inteiro.

No breve período de vida, o projecto deixou apenas registado um único álbum. Ouvido transversalmente, Pacer pode facilmente soar como o hipotético sucessor de Last Splash, quanto mais não seja pela economia de tempo: 12 canções em apenas 33 minutos! Além disso, os laços com o passado recente estendem-se a algumas das canções, em todo o caso registadas com maior rispidez. São os casos do tema-título, logo a abrir, do torpor adocicado da derradeira "Dedicated", ou da intermédia "Bragging Party", todas elas alinhadas naquela pop esquizóide, com adornos surfy, a que a voz, meio ameninada, meio gata-com-cio, de Kim Deal nos tinha habituado. Contudo, uma audição mais atenta, com maior atenção aos detalhes, revela o quanto as primeiras impressões podem ser enganadoras. Efectivamente, Pacer é um disco de uma crueza à qual miss Deal não nos tinha ainda habituado, nem sequer nos (poucos) temas do tempo dos Pixies. Por norma, a secção rítmica dá o mote, moldando o rumo de cada tema. Os riffs de guitarra, normalmente incisos e espasmódicos, e a voz, muitas vezes irada e berrada, provisionam a sujidade que varre a maior parte das faixas. São os exemplos do neurótico "Full On Idle", do cacofónico "Breaking The Split Screen Barrier", do trepidante "Tipp City", ou do tresloucado "Empty Glasses". Ou ainda, para melhor aferição, "I Am Decided", escrito a meias com o amigo Pollard e estranhamente reminiscente da alegre demência de um tal Black Francis de outras eras.

Gerado numa quase absoluta liberdade criativa, sem os propalados conflitos de egos a que Kim Deal estava habituada, Pacer resulta urgente e com uma fé insuspeita no ofício rock. Olhado pelos seguidores com alguma indiferença à data da sua edição, merece a esta distância temporal ser apreciado como um pequeno tesouro subavaliado. Até à data, talvez o último merecedor desse epíteto com a participação activa da sua principal ideóloga.

"Pacer"

"Tipp City"

4 comentários:

hg disse...

"pequeno tesouro subavaliado (...) talvez o último merecedor desse epíteto com a participação activa da sua principal ideóloga"
Serei talvez caso raro, mas sou fã incondicional do Title TK. E, mais recentemente, apreciei deveras o Mountain Battles.

M.A. disse...

Também gosto de ambos, não no todo, mas de algumas canções que julgo muito boas. Acho é que são algo desequilibrados. Mas lá está, para ti também são os tais tesouros subavaliados ;)

Gravilha disse...

fiquei com vontade de tirar o pacer da prateleira, já não o ouço há muito. É engraçado como alguns discos de que gostámos, mas ficaram arrumados, podem cair nas teias do tempo ou transformar-se como o vinho em casca de carvalho. Vamos ver que odores e paladares ganhou e/ou perdeu pacer. abraço,

hg disse...

Gostei muito da analogia com o vinho.