"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Discos pe(r)didos #20


















THE TRIFFIDS
Born Sandy Devotinal [Mushroom, 1986]

De todos as notáveis bandas reveladas na Austrália de oitentas, os Triffids serão, provavelmente, a mais injustiçada pela memória colectiva. Formados em 1978, na cidade de Perth (a mais isolada metrópole do mundo, na parte ocidental da ilha-continente), desde logo se afirmaram pela verve de David McComb (1962-1999), compositor genial, vocalista e guitarrista, poeta maldito, e eterno romântico viciado em álcool e heroína. Se os primeiros registos serviram para marcar a diferença relativamente ao restante contingente post-punk, pelo reconhecido cunho literário das canções, Born Sandy Devotional foi a confirmação definitiva de uma banda de excepção, a obra-prima anunciada.
Segundo reza a lenda, na preparação deste álbum, os Triffids passaram um longo período de isolamento no deserto australiano. Já com as canções escritas, sob a influência daquela atmosfera, rumaram a Londres, onde, sob a supervisão de Gil Norton (que já trabalhara com os Echo & The Bunnymen e viria a ser o produtor quase exclusivo dos Pixies) gravariam os dez temas que compõem Sandy Devotional. Com a edição sucessivamente adiada, o disco chegaria às lojas na Primavera de 1986, para gáudio da generalidade da imprensa especializada. Hoje, passados mais de vinte anos da sua concepção, continua a fazer todo o sentido o fascínio gerado por esta obra assombrada, nostálgica, e até derrotista, mas, simultaneamente bela, celebratória, e grandiosa.
A entrada pela porta grande dá-se com "Seabirds", como quase todas as restantes, uma canção de perda, adornada por arranjos de cordas elegantes, em contraponto ao irromper constante da bateria galopante. "Estuary Bed" é sobre as memórias - emocionais e físicas - associadas aos locais onde se viveram momentos marcantes. A presença da pedal steel aflora o lado americano que, mais tarde, tomaria outras proporções na obra dos Triffids. Na sua aparente alegria, "Chicken Killer" esconde o testemunho tenebroso de alguém que precisa de apagar as memórias, nem que tenha de se tornar um homicida. Cantado pela teclista Jill Birt, em tom infantil, "Tarrilup Bridge" é uma nota de suicídio e, paralelamente, uma celebração da vida. "Lonely Stretch" é feito daquela tensão que tem norteado a carreira do compatriota Nick Cave. Já "Wide Open Road" será a melhor descrição de uma vida acossada pelo ciúme. "Life Of Crime", entoada em crooning, descreve o estado de loucura induzido por uma paixão não correspondida. No fundo, "Stolen Property" é o resumo perfeito de Sandy Devotional: uma ode à fidelidade. Em remate esperançado, "Tender Is The Night" é um dueto amoroso de Birt e McComb, uma espécie de hino de reconciliação.
Segundo palavras do próprio David McComb proferidas ao Melody Maker aquando da edição do disco, todos os temas têm um destinatário comum: a tal Sandy do título. Nome verdadeiro ou ficcionado, terá sido certamente alguém que lhe deixou marcas profundas.

"Wide Open Road"

4 comentários:

strange quark disse...

Ora aqui está uma banda que tenho ouvido falar frequentemente nos últimos tempos, mas de quem não conheço praticamente nada (ou se calhar conheço algumas coisas, mas não associo ao grupo). Confesso que me terá passado ao lado, e na altura (anos 80) até andava mais ou menos informado do que corria "por aí". Mas as coisas são assim mesmo, e a peça que deixaste é bastante bonita, e já me fez colocar o disco na minha wish list pessoal.

um abraço

Shumway disse...

Um disco de uma vida.
"Tarrilup Bridge", "Life Of Crime", "Lonely Stretch", "Stolen Property" ou "Tender Is The Night" são canções que mexem profundamente com todas as nossa emoções.
6 estrelas :-)

Abraço

extravaganza disse...

(És um provocador, estou farta de passar aqui mas ainda não li. E ainda não foi desta. Cá voltarei. AMO TRIFFIDS!!!! Uipppiiii!!!)

extravaganza disse...

Caro M.A., obrigado por este texto sobre os meus mui queridos Triffids. Nem imaginas o que eu adoro isto...
Desconhecia alguns dos pormenores aqui descritos. Deves ser a única pessoa, que conheço actualmente, que gosta desta banda.

Tenho que fazer um post em jeito do meu tributo dos 20 anos ou coisa que o valha. :-)

Beijinhos,