"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Saúde de ferro



















Há quase uma década, as publicações nos mais diversos formatos apontavam o Canadá como o novo epicentro da pop. O público obedecia, entusiasmado, com os então novos canais de divulgação a despacharem bandas à razão de mais de uma por semana. Cedo se percebeu que a montanha tinha parido um rato, quer porque muita desta gente não justificava o valor para tamanho hype, quer porque até muitos dos nomes mais credíveis confirmaram o falhanço nos chamados "discos da confirmação". Na altura estranhei a falta de atenção relativamente a um combo chamado The Heavy Blinkers, já de uma fornada anterior, a dos sobreviventes da segunda metade de noventas. Tal desatenção ganha contornos de injustiça se atentarmos que, precisamente na aura do "fenómeno canadiano", a banda lançou The Night And I Are Still So Young (2005), disco maior numa carreira de extrema coesão construída ao serviço da pop orquestral.

De então para cá foi o silêncio quase absoluto, ficando o interim ainda marcado pelo abandono de dois dos fundadores, o que faz do principal compositor Jason Michael McIsaac o único membro original do projecto. Este não esmoreceu com os abandonos, e ao fim de quase uma década de trabalho lançou finalmente Health, em regime de auto-edição. Para compensar as perdas, este novo registo conta com a participação de um vasto número de convidados, entre os quais se destacam o norueguês Sondre Lerche e o irlandês Sean O'Hagan (The High Llamas), vozes masculinas no todo dominado pelas femininas. Como suponho que saibam, este último é um estudioso da busca da perfeição pop de Brian Wilson, interesse partilhado com os Heavy Blinkers, estes igualmente reverentes à obra de Harry Nilsson. Por esta altura imagino que já tenham depreendido que Health é um daqueles discos sumptuosos, feito de canções ricas em detalhes de bom-gosto. Tem um pouco mais de uma hora de duração, portanto algo longo para os parâmetros actuais, mas leva o tempo necessário para extrair toda a elegância dos arranjos de cordas, toda a exuberância dos sopros, e toda aura harmoniosa. Pode até não ter um brilho tão intenso como o antecessor, mas dificilmente lhe escapará o título de sinfonia pop de 2013, sucedendo ao último dos escoceses BMX Bandits, vencedor incontestado do ano transacto.

"I Should Be Sleeping " [The Heavy Blinkers, 2013]

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