"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Inventário dos estragos e novos caminhos















Os tempos estão mais para desilusões do que propriamente para surpresas. No entanto, volta e meia ainda somos bafejados com uma ou outra descoberta, que nos faz crer que a música actual ainda nos pode surpreender. No meu caso, com os norte-americanos Parquet Courts, o prazer da descoberta foi redobrado, pois aconteceu num concerto que não sabia bem ao que ia. Ao concerto verdadeiramente revelador seguiu-se a exploração a fundo de Light Up Gold, álbum já de finais do ano passado. Desde esse feliz acaso tenho notado um número crescente de gente deslumbrada com o quarteto, e com o seu cocktail infalível do seu indie-rock irrequieto herdeiro da linhagem clássica, que vai dos The Feelies aos Pavement, e passa pelas várias expressões post-hardcore da década de 1990.

Com esta espiral crescente de visibilidade, talvez já houvesse a necessidade de apresentar música nova, por um lado para tornar mais variados os numerosos concertos dos Parquet Courts, por outro para satisfazer a sede dos seguidores da primeira vaga. Eventualmente, poderão ter sido estes os motivos por detrás da edição de Tally All The Things That You Broke, recente EP de cinco temas ainda ancorado nas referências de noventas. Relativamente ao antecessor há, porém, algumas diferenças, desde logo pelo maior pendor de "baixa-fidelidade", facto realçado na capa a marcador vermelho, no melhor espírito do-it-yourself, com a inscrição "God damn, it's just a bootleg". Há, no entanto, uma pequena variação - ligeira mas mais significativa - nestes cinco temas, que é a verificação de uma maior gravidade, expressa na voz de Andrew Savage, ao estilo militante de uns Fugazi, que ameaça a atitude "que-se-lixe" que conhecíamos dos Parquet Courts. No final do alinhamento do EP, mas talvez apenas uma brincadeira sem repetição, a banda brinda-nos com o atípico "He's Seeing Paths", incursão ao mundo rap a aventar como soariam os Beastie Boys se tivessem enveredado pela tendência lo-fi. O que é certo é que, a brincar, a brincar, os Parquet Courts envergonham aquelas tentativas de crossover entre o rock e o hip-hop datadas de mais de quinze anos.

[What's Your Rupture?, 2013]

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