THE PRIMITIVES - "I'll Be Your Mirror" [RCA, 1989]
[Original: The Velvet Underground (1967)]
Vejo-me na obrigação de concordar com alguns amigos que tendem a classificar Nico como um logro, um mito criado em torno da imagem e da lenda, com dotes vocais diminutos. Por outro lado, também compreendo aqueles que a idolatram, como o elemento de uma frieza gélida no meio dos temas de mundanidades narcóticas no álbum de estreia dos Velvet Underground. Suponho que fosse esse o efeito que Andy Warhol tinha em mente quando a impingiu à banda nova-iorquina. Com efeito, por oposição à extridência do restante alinhamento, o trio de temas por ela cantado é solene no ambiente lúgubre, temas esses que parecem extraídos de um cabaré negro. No entanto, e em particular "I'll Be Your Mirror", o manto de negrume não consegue ofuscar o potencial pop latente, pelo menos noutra voz.
Assim o entenderam os britânicos The Primitives, uma das bandas mais visíveis do período pós-C86, graças essencialmente ao sucesso do inevitável "Crash". Embora não seja "oficialmente" reconhecido, esta banda vale bem mais do que esse hit retumbante, já que o primeiro par de discos editados em finais de oitentas estão pejados de pérolas inspiradas no classicismo pop dos girl-groups dos sessentas à luz dos conceitos indie da altura. É esta a receita aplicada à revisão de "I'll Be Your Mirror", pop de guitarras em estado de graça, de um brilho resplandecente, com o suave toque de distorção a não molestar o sentido melódico. O maior trunfo desta versão, misto de inocência e perversão, é a voz de Tracy Tracy, de uma pureza quase juvenil, portanto, bem distinto do registo grave do anjo negro germânico no original.
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