Foto: Kevin Westenberg
Nos idos de oitentas, Paddy McAloon lançou a modéstia às urtigas e auto-proclamou-se o melhor escritor de canções. A concorrência era de peso, é certo, mas nem por isso o título atribuído a si próprio era totalmente descabido. Nesses tempos, à frente dos Prefab Sprout, as suas canções eram motivo para o fascínio da facção mais letrada e sensível da juventude de então, concebidas sob os ditames do mais puro bom-gosto pop. Ao sucesso comercial somavam-se os louvores da crítica. Os tempos mudaram, e mesmo sem terem anunciado um ponto final, os Prefab Sprout foram desaparecendo progressivamente dos radares dos media. Ao ponto de, nestes tempos de reciclagem de todo o lixo tóxico da sua era gloriosa, estarem praticamente esquecidos pelos ditadores de modas e tendências baseadas no passado.
A injustiça do esquecimento parece não demover McAloon de nos continuar a presentear com música do mais fino recorte pop. Nem mesmo os graves problemas de saúde, primeiro da visão, mais recentemente da audição, o privam daquele toque de Midas. Fruto dessa perseverança, ontem mesmo, chegou ao mercado Crimson/Red, o primeiro álbum de material novo da última dúzia de anos se tivermos em consideração que a gravação do anterior Let's Change The World With Music (2009) datava do ano de 1992. Não deixa de ser gratificante verificar que, apesar do aspecto de guru ancião, o nosso compositor pop favorito preserva nas suas canções a mesma frescura da juventude sonhadora de há quase três décadas. Embora com a chancela Prefab Sprout, este é, na prática, um disco a solo de Paddy McAloon, já que velhos companheiros como o irmão Martin e a co-vocalista dos coros aéreos Wendy Smith apenas deram o apoio não participativo ao projecto. E não deveria ser de outra maneira, já que as características que fizeram a glória da banda permanecem intocáveis. Assim, nesta dezena de temas, deparamos com a mesma sofisticação pop de outrora, a mesma melancolia romantizada, e até a sumptuosidade da produção comum à de Thomas Dolby no histórico Steve McQueen (1985). Na verve poética das letras detectamos remissões para os tempos da juventude, relatos de uma hipotética venda da alma ao diabo (o preço da genialidade?), e o tributo sob a forma de recordação de um encontro com Jimmy Webb, alegadamente o mais influente dos artesãos pop para o estudioso apaixonado Paddy McAloon.
"The Best Jewel Thief In The World" [Icebreaker, 2013]
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