Pode ser apenas cisma minha, mas dificilmente me demovem de que o fascínio em torno dos Mazzy Star, principalmente o do público feminino, é em boa parte devido à maneira bonitinha de fazer as coisas. Não é que os três álbuns que deixaram espalhados pela década de noventas promovam grandes variações, mas julgo que no meio pacifismo idílico, sobretudo presente no segundo e no terceiro, há algo mais, sendo facilmente discernível uma sensação permanente de desgraça, embalada por uma densidade com laivos de psicadelismo. Pela parte que me toca, sem desprimor para os outros discos, deles prefiro o debutante She Hangs Brightly (1990), marcado pela crueza árida que se tornou menos presente nos registos posteriores, à medida que as opções de produção apostavam realçar o encanto de Hope Sandoval, uma espécie de musa fatal em ambiente quase lynchiano.
Neste 2013 de todos os regressos, e dezassete anos depois do silêncio, os Mazzy Star regressam aos álbuns com Seasons Of Your Day, e fazem-no como se o tempo tivesse parado. Tal como os Galaxie 500 ligeiramente antes, também estes criadores de algumas das mais belas canções indutoras da preguiça, verdade seja dita que dos Mazzy Star jamais tenham prometido revoluções, mas não deixa de ser surpreendente a capacidade do novo disco de nos transportar para outro tempo das nossas vidas. Para tal, julgo que terá contribuído a quase invisibilidade da dupla nuclear neste hiato, apenas com aparições esporádicas no caso de Hope Sandoval, e absoluta no de David Roback. Gostaria, no entanto, de registar que, mormente na sua parte inicial, Seasons Of Your Day é um disco mais despido que os anteriores, fazendo do regime acústico o predilecto. No entanto, lá mais para a segunda metade, com vincada marca folk, Roback mostra-se ainda capaz de tecer densos novelos para os cantos da negra fantasmagoria de Hope. Resumindo, não vêm daqui quaisquer novidades, apenas mais um lote de excelentes novas canções de tons outonais, especialmente bem-vindas na estação do ano que agora começa.
"California" [Rhymes of An Hour, 2013]
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