"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Ao vivo #110















Scout Niblett @ Teatro Maria Matos, 09/10/2013

Tanto em disco como em palco, já nos habituámos à imagem de uma Scout Niblett solitária, guerreira da causa da dor-de-corno armada de guitarra eléctrica. Na sua obra, para além da dureza das seis cordas e das palavras doridas, as raras intromissões de outros instrumentos são normalmente da sua responsabilidade. No seu devir, tem contado com a parceria de Steve Albini, talvez o mais indicado aliado para extrair da sua música toda a crueza pretendida. Com o recente álbum It's Up To Emma foi interrompida esta aliança já de vários anos, ao mesmo tempo que Scout abria a sua música à colaboração de outros músicos. Contrariamente ao esperado, o novo disco - auto-produzido - é talvez o mais pessoal dos seis já editados (esclareça-se que Emma é o nome de baptismo da moça), sem perder pitada da aridez que é característica dos anteriores trabalhos.

Sendo este último registo o mote para o concerto de ontem à noite, Scout Niblett fez questão de se acompanhar de baterista e segundo guitarrista para a reprodução o mais fiel possível do trabalho gravado. A estes juntaram-se, em temas específicos, um violinista e uma violoncelista, concedendo à música da cantautora uma nova riqueza textural. No entanto, a entrada em palco dá-se em solitário, para um par de temas de um passado recente em jeito de acontecimento. Só ao terceiro tema, com a trupe completa, se inicia o desfile dos temas de It's Up To Emma, tocado na íntegra com a excepção da versão de "No Scrubs", original das TLC. O desenrolar dos acontecimentos dá-se em crescendo de envolvimento, com os novos elementos, estranhos à catarse emocional da sua chefe de fila, a potenciarem a força destas canções que encontram local perfeito nas óptimas condições do Maria Matos. A estrela, porém, ainda é Scout Niblett, voz e guitarra, com a dupla acompanhante a limitar-se a participações esparsas, porém determinantes no sublinhar dos clímax de tensão. No ribombar da bateria sublima-se a profundidade da dor, nos desalinhos da guitarra assinala-se uma intenção mal contida de vingança. Nas muitas explosões sónicas é impossível não pensar na eterna comparação (algo injusta, diga-se) à PJ Harvey de outros tempos. Ontem, na sua melhor forma, Scout Niblett teve a seu favor o factor que melhor pode desfazer a colagem: uma evidente herança da folk britânica, por oposição aos arremedos bluesy da outra. O maior trunfo, no entanto, é aquela voz versátil de menina-mulher, ora dorida e delicada, ora erguendo-se com força renovada, quase sempre aguda para combinar com a rispidez da afinação aberta da guitarra. É uma voz que, no desconforto das palavras, que questionamos sejam todas inspiradas em experiências pessoais, chega a comover.

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