"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Going blank, again
















Não é preciso recuar muito no tempo, nem sequer uma mão-cheia de anos, para vislumbramos uma Austrália como pátria de inúmeras aberrações musicais. Tenho de vos confessar que, na altura, com a sucessão de sonoridades garridas que iam chegando daquelas paragens e me faziam amaldiçoar a década de oitentas, cheguei a ponderar se estava em contra-mão do resto do mundo, ou se todo o mundo tinha ensandecido e perdido qualquer critério de bom-gosto. Tudo passou, felizmente, e hoje o cenário musical da ilha dos cangurus é bem distinto. Diria até que é dos mais excitantes actualmente no planeta, com o surgimento de um número considerável de bandas, sobretudo dadas à psicadelia, a apresentarem discos com propostas bastante arrojadas.

Uma dessas bandas, que na realidade já anda por aí há uma meia dúzia de anos, são os Blank Realm, um quarteto que inclui na formação três irmãos. São originários da cidade costeira de Brisbane, terra dos lendários The Go-Betweens, mas a sua sonoridade não poderia estar mais distante daquele vulto da música australiana. Chegam aos ouvidos do mundo a reboque da britânica Fire Records, ultimamente muito apostada no melhor que se vai fazendo nas antípodas, editora responsável há uns meses pela edição europeia de Go Easy, álbum lançado na Austrália em finais de 2012 numa tiragem limitadíssima. Aproveitando a leva, a Fire acaba também de reeditar o antecessor Deja What? (2010) para o mercado europeu. Se neste disco de estreia, percorrido por devaneios psicadélicos experimentalistas, já se pressentia alguma acessibilidade para o ouvinte médio, a fórmula surge aprimorada no sucessor. Fazendo jus ao nome, Go Easy vem recheado de canções dignas desse nome, não obstante a aura de alienação que o caracteriza. Ao percorrermos os seus oito temas, detectamos ecos bluesy de uns Royal Trux, guitarras jangle emprestadas da vizinha Nova Zelândia, alguma frieza característica de várias expressões post-punk, e delírios cósmicos de uns Flaming Lips do bom tempo. No entanto, estas e mais referências surgem de tal forma difusas no todo, que, não nos resta outra opção que não seja classificar a proposta dos Blank Realm deveras personalizada.

 
"Cleaning Up My Mess" [Bedroom Suck, 2012 / Fire, 2013]

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