"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ao vivo #109

















Built to Spill @ Lux Frágil, 04/09/2013

À lista de concertos de sonho cumpridos ainda faltava acrescentar o nome dos Built to Spill. Não que ainda não tivesse havido oportunidade, mas na altura entendi que não estavam reunidas as condições ideais para uma experiência de quase religiosidade. A agradável surpresa, tanto mais nos tempos que correm em que apenas a última modinha inexplicável esgota bilhetes em minutos, é que o público era em bom número, mas ainda assim insuficiente para a imensidão desta banda, uma das poucas que restam impolutas da geração de noventas. Claramente, e porque os Built to Spill são banda de paixões que não se explicam pela divulgação nos media, na audiência escasseavam os curiosos, dando ao concerto um ambiente especial reservado a fieis.

Portanto, a ocasião revestia-se de grande exigência, acrescida pelo facto de se tratar de uma estreia há muito esperada em solo nacional. Mas nada que intimidasse Doug Martsch e seus pares, como é expectável de alguém que já adquiriu o insólito estatuto de guitar hero do universo indie e tem no reportório muitas das canções mais intensamente brilhantes destes últimos vinte anos. Intensidade era precisamente o que se esperava deste autor de temas de uma tristeza e beleza alarmantes, tristes sem dramatismos excessivos, belos sem lamechices, apenas e só a expressão em canção do íntimo de gente vulgar como nós. Com um vasto leque de escolhas só possível a bandas ainda do tempo em que se faziam carreiras, os Built to Spill souberam dosear essa intensidade num engenhoso alinhamento em crescendo de envolvimento banda-público. Para o começo reservaram essencialmente temas dos últimos trabalhos, mais complexos e ricos em variantes texturais, com primazia às longas derivas instrumentais. Portanto, esta foi a fase em que o nasalado à la Neil Young de Martsch teve apenas aparições esporádicas, surgindo a reverência ao mestre canadiano sobretudo nas cavalgadas das guitarras. Quebrado o gelo, com o avanço do concerto, Doug Martsch soltou-se com tiradas de um humor seco, mas fazendo a vontade ao público com várias escolhas dos superlativos discos Perfect From Now On (1997) e Keep It Like A Secret (1999). Nesta fase os arrepios sucederam-se, culminando invariavelmente em aplausos vigorosos e sinceros. Ao todo, com um longo encore incluído, foi mais de uma hora e meia de emoções fortes e mestria instrumental, com direito a dois temas alheios: "Here" dos Pavement e "How Soon Is Now?" dos Smiths. Se o primeiro era mais previsível, foi também mais fiel ao original, enquanto o segundo, que encerrou a contenda, é uma autêntica e inesperada apropriação.

A árdua tarefa de abrir a noite de altas expectativas (cumpridas) coube aos suíços Disco Boom, que souberam aproveitar a presença de um público de feição. Quarteto aparentemente já com alguma rodagem, são uma súmula do mesmo cenário "alternativo" que viu nascer os Built to Spill, deixando ecoar referências de gente como os saudosos Unwound, os  Sonic Youth, ou até os próprios cabeças de cartaz. Porém, cada tema reveste-se de uma imprevisibilidade que confere bastante carisma à banda de Zurique.

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