É mais ou menos ponto assente que as grandes parangonas da última dúzia de anos da música popular são geradas, quase invariavelmente, por bandas oriundas dos países da América do Norte. No entanto, no que toca àqueles ovnis musicais, as chamadas pedradas no charco da normalidade, o Reino Unido continua a dar cartas. Não com a mesma periodicidade da fulgurosa primeira metade de noventas, é certo, mas com a assiduidade bastante para ainda depositarmos as nossas apostas nos estetas musicais súbditos de Sua Majestade. Se bem se lembram, foi há já um par de anos que uns tais de Wu Lyf surgiram como que do nada, surpreenderam meio mundo, e implodiram logo de seguida.
No ano corrente, e pelo menos enquanto o puto Zoo Kid/King Krule não confirma em álbum as expectativas criadas pelos seus lançamentos esporádicos, o título de outsiders às tendências reinantes vai para os Public Service Broadcasting. É sob esta designação que se apresentam dois autênticos geeks, com pseudónimos estapafúrdios incluídos, que combinam ferramentas musicais algo díspares: guitarras, banjos, bateria, teclados analógicos, e programações electrónicas. No entanto, a sua característica mais distinta é o recurso a falas de filmes de outras eras, dos arquivos da BBC mas não só, sobretudo informativos e de propaganda. As tais falas, que descontextualizadas causam uma sensação de saudade de tempos que nem sequer foram vividos, estão presentes em todos os onze temas de Inform - Educate - Entertain, o recente e surpreendente álbum de estreia da dupla. O intuito, afirmam os PSB, é reavivar a memória de um Reino Unido desaparecido (sobretudo dos tempos austeros do pós-guerra), mas também partir do passado para informar e educar para o futuro. Claro está que o entretenimento não faz parte da equação do título por acaso... As técnicas de corte-e-colagem utilizadas não são propriamente pioneiras, já que no passado foram também recurso de gente como os Colourbox e a Beta Banda, ou até os fugazes M/A/R/R/S. Já quando as guitarras se endurecem, vêm-nos à memória os "pós-rockismos" dos excelsos Disco Inferno. Convém, no entanto, estabelecer estas comparações com as devidas distâncias, pois os PSB partem de princípios semelhantes para fins radicalmente diferentes. Assim como convém não especular sobre o futuro de uma fórmula praticamente condenada ao rápido desgaste. Por ora, mesmo sem tais garantias de sucessão à altura, recomendo vivamente o desfrute até à exaustão do mais curioso objecto musical do ano da graça de 2013.
"Spitfire" [Test Card, 2013]
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