Foto: Willy Vanderperre
Quando surgiram, há quase um meia dúzia de anos, os ingleses These New Puritans anunciavam-se como uma espécie de redenção pelo vandalismo às referências post-punk do passado recente, prática que dava algumas mostras de abrandamento. Sem ser um disco propriamente brilhante, o seu álbum de estreia era uma manta de retalhos de citações díspares, com especial incidência em The Fall, que demonstrava alguma coragem pelo risco e deixava muitas possibilidades em aberto. Dois anos volvidos, com Hidden (2010) confirmavam a desconfiança que tínhamos de serem uma banda imprevisível, com um disco resultante de um mundo globalizado assente no uso das percussões, de uma exuberância quase tribal.
De uma banda que não conhece a palavra estagnação poderíamos esperar quase tudo, mas talvez nada nos tivesse preparado para o assombro que é o novo Field Of Reeds. Com familiaridades com a música concreta, a neo-erudita, ou o jazz, este é disco que assinala um corte quase definitivo com o universo pop/rock, do qual restam tênues sinais na estrutura dos temas. Quase impenetrável num primeiro contacto, pela sua frieza minimalista, revela-se gradualmente, com uma riqueza de detalhes algo invulgar. Na especial atenção que é dada ao pormenor não há lugar para as guitarras, mas a sua ausência é colmatada por uma panóplia de recursos que inclui diferentes teclados, sopros avulsos, secções de cordas, e coros discretos. Claro está que este passo de gigante exigiu o envolvimento de muito mais gente para além do trio base dos These New Puritans. Nos participantes externos ganha especial destaque, ao ponto de ter honras em muitas das fotos promocionais da banda, a portuguesa Elisa Rodrigues, jovem cantora ligada à vastidão do universo jazz. É dela a voz que funciona como contraponto de estranheza em vários temas a Jack Barnett, este normalmente monocórdico, sem que isso signifique enfado. Arrojado e desafiante, pelo menos para ouvidos polidos, Field Of Reeds poderia estar próximo das mais recentes aventuras de Scott Walker, caso este tivesse já cortado o cordão umbilical que o liga ao passado pop. Ou até de uns Radiohead, se estes não andassem há uma boa dúzia de anos à volta de uma ideia há muito gasta.
"Fragment Two" [Infectious, 2013]
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