Julia Holter @ Galeria Zé dos Bois, 23/07/2013
Pelo ambiente circundante, em sintonia com a beleza delicada da música, dificilmente se supera a vivência daquele concerto de Julia Holter há pouco mais de um ano na igreja anglicana de Lisboa. A própria fez questão de o lembrar anteontem, referindo-se-lhe como o mais especial dos concertos da sua (ainda) curta carreira. Para nossa sorte, esta jovem californiana sabe como não profanar as nossas memórias mais gratas, investindo agora numa nova e superlativa abordagem aos temas, executados com tal primor que rapidamente os sentidos se alheam das condições precárias da exígua sala da ZdB em noite de Verão.
Agora com uma banda mais alargada, que integra um violinista, um violoncelista, um baterista, um saxofonista, e a própria nos teclados, Julia Holter, perdeu relativamente ao passado recente, como alguém me dizia, aquela frieza minimalista. Mas, em compensação, as suas canções ganham em humanidade, sublinhando a beleza intrínseca e a da voz da artista, e realçando os inúmeros detalhes das composições fruto de um enorme talento. As referências (Laurie Anderson, Robert Wyatt, David Sylvian, Kate Bush) são ainda visíveis, embora substancialmente mais depuradas numa roupagem que confere maior personalidade, à falta de melhor discrição, uma variante da dream-pop que assimila a música de câmara e o jazz. Provavelmente, será esta a linha condutora do iminente Loud City Song, terceiro álbum que merece especial destaque no alinhamento e que já está a elevá-la a outros patamares mesmo antes de ser editado. Embora desconhecedor destes temas novos, o público, em número considerável, mostra uma receptividade que é correspondida pela interacção de Julia Holter, mais interventiva no falatório do que se supunha. Esta empatia é premiada com o regresso para encore, sem qualquer queixa relativamente à sauna em que o "aquário" da ZdB entretanto se transformou. Terminado o idílio, ao fim de uma hora e pouco, o tal concerto da igreja era já uma memória distante.
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