"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Singles Bar #75








dEUS
Suds & Soda
[Island, 1994]




É oficial e até me causa algum embaraço: devo ser um dos vinte portugueses que nunca viram os dEUS, o que, atendendo ao número de visitas dos belgas ao nosso país, faz de mim o cúmulo dos excluídos. Se hoje a banda  me é mais ou menos indiferente, tempos houve em que fazia parte da minha dieta musical com uma frequência quase diária. Eram, porém, os tempos em que me encontrava desterrado no Portugal profundo e, portanto, longe dos locais onde o rock "acontece".

Tudo começou com "Suds & Soda", um tema que ouvi pela primeira vez numa estação de rádio estatal espanhola que, felizmente, ainda existe. Ao que parece, na altura, a banda ou parte dela tinha residência no país vizinho. Tirando partido de um raro benefício da interioridade, já estava completamente rendido e familiarizado com "Suds & Soda" quando este começou a rodar com assinalável frequência nos programas da especialidade de uma MTV radicalmente diferente da de hoje. A cada audição, porém, a esquizofrenia rítmica atingia-me com a mesma violência da primeira vez. Desde o violino tresloucado da abertura, às guitarras em desalinho cortante, passando pelas vozes possuídas e pela letra que, nas partes inteligíveis, denuncia transgressão, tudo em "Suds & Soda" contém os instintos mais primais que devem estar inerentes ao rock'n'roll genuíno. Em linha com o rock mais ruidoso que ditava as tendências de então, "Suds & Soda" distingue-se da concorrência pelo toque arty que os seus autores sempre fizeram questão de ostentar. As referências a um tal de Captain Beefheart, como pude vir a comprovar já com conhecimentos musicais mais enriquecidos, bem como a outros desalinhados da causa rock, fazem deste tema uma verdadeira pedrada no charco num universo que começava a ficar delimitado pelos tiques algo gastos do grunge.

Do forte impacto inicial à compra, meio às cegas mas sem hesitações, do álbum Worst Case Scenario foi apenas uma questão de semanas. Convém lembrar que esses eram os tempos em que até no interior ostracizado se vendiam discos, inclusive aqueles que eram procurados por um público não resignado ao gosto formatado pelas tabelas de vendas.



2 comentários:

Gravilha disse...

já somos 2 que nunca viram os dEUS, que ouviram o worst case scenario vezes sem conta e a quem os ditos são agora indiferentes. abraço!

Miss C. disse...

Três.