Laurel Halo + Gala Drop @ Galeria Zé dos Bois, 24/05/2012
Primeiro facto a apontar ao concerto da passada quinta-feira é o atraso interminável relativamente à hora inicialmente prevista para o começo do mesmo, um hábito antigo na ZdB que julgava praticamente corrigido. No entanto, e se não estou errado, do atraso foi possível extrair algo tão positivo como a alteração da ordem dos nomes em palco, colocando o motivo da minha ida em primeiro lugar, algo que só agradeço em véspera de dia de trabalho.
Passando ao que interessa, nomeadamente Laurel Halo, essa carinha laroca que, apesar da tenra idade, conta no currículo com colaborações com arquitectos sonoros das electrónicas da dimensão de Daniel Lopatin ou James Ferraro, poderemos dizer que o regalo para a vista tem correspondência directa no deleite auditivo. Dona de uma simpatia discreta mas aparentemente genuína, a moça começa a função com uma peça que poderá causar alguma estranheza. Para a mesma concorrem elementos das mais dispersas proveniências, como o dub, o noise, o ambient, ou até a mais convencional electrónica que hoje é aceite nas pistas de dança. Ao segundo tema já o público está conquistado pela peculiar amálgama de sonoridades díspares, deixando-se embrenhar por um som que esteve irrepreensível, quer ao nível do volume (bem alto!), quer ao nível da clareza. A ementa faz-se essencialmente do novíssimo Quarantine, disco no qual a voz é usada de uma forma mais convencional, e não como mero elemento decorativo. Talvez seja neste particular que resida o grande senão do concerto, pois estaríamos a ser tendenciosos se disséssemos que Laurel Halo nasceu para cantar. Valha-nos que uma ou outra nota vocal menos feliz é, geralmente, corrigida pela manipulação electrónica. Nos assomos de maior acessibilidade às tendências dominantes do presente noto algumas familiaridades com o universo Grimes, algo que, arrisco dizer, poderá a breve trecho e com novos desenvolvimentos, valer um contrato com a "parasitária" 4AD. Resta-me cruzar os dedos e torcer para que o espírito subversivo de Halo não permita tal coisa, pois são bem conhecidos os casos recentes de hype desmedido que conduzem dos píncaros ao esquecimento num ápice, abortando expectativas de carreiras duráveis.
Dos portugas Gala Drop, que têm vindo a merecer um bom acolhimento extra-muros, o "meu" concerto resume-se a um par de temas. Ao colectivo há que reconhecer a qualidade técnica dos executantes, todos eles já com nome feito no undeground nacional, algo que não significa necessariamente que tragam ao palco qualquer ideia nova. O primeiro tema, mais amigável para estes tímpanos, evolui de um começo atmosférico e esparso para um bem balançado kraut, tendência que parece quase omnipresente nas actuais expressões pop, facção leftfield. Ao segundo tema, substancialmente mais ritmado, as revisitações do universo Santana implicam a desistência. Repelido pelos sons "tropicais", saio da sala com a sensação de que os Gala Drop poderão estar a um curto passo da freakalhice bacoca de uns Blasted Mechanism...
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