Falar de Gravenhurst - a banda, não as várias cidades com o mesmo nome - é o mesmo que falar de Nick Talbot, mentor e único membro permanente deste projecto que, de há uma dúzia de anos a esta parte, faz questão de ser um dos segredos mais bem guardados da música pop britânica. Filho de uma outra Bristol diferente da que andou nas bocas do mundo na década de 1990, já não dava notícias há uns cinco anos, altura de edição do superlativo The Western Lands. Disco relativamente ecléctico, mas que adensava a introspecção, esse terceiro álbum deixava esmorecer a agrura dos registos anteriores, concebidos numa confluência imaginária do post-rock com afinidades shoegaze, do kraut e da folk de raíz britânica.
Ao que parece definitivamente em solitário, Talbot acaba de regressar ao local do crime com Ghost In The Daylight que, pese embora o tempo decorrido, é o passo natural relativamente ao antecessor. Por conseguinte, é um disco sereno e profundamente reflexivo. Talvez menos imediato, revela-se com vagar à medida que as canções nos prendem no emaranhado de pormenores que se escondem na aparente simplicidade. A grande novidade é o maior protagonismo concedido às texturas de origem electrónica. Não se pense, porém, que os Gravenhurst se renderam ao contigente "sintético" associado à editora Warp Records que os acolhe. Não, por ora, a electrónica resume-se apenas a uma drum machine aqui, um teclado planante acolá, ajudando a enaltecer a aura de abandono que percorre todos os dez temas. A folk ainda marca pontos, sobretudo na voz de Talbot, tanto na cadência como na sua fragilidade, e a estrutura das canções ainda assenta em guitarras circulares municiadoras de um efeito sedativo. Fluindo num estado de doce dormência, Ghost In The Machine aproxima-se, a espaços, do romantismo sépia fora de época de uns The Clientele, algo que me apraz registar. É o caso, salvas as devidas distâncias, na amostra infra:
"The Prize" [Warp, 2012]
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